segunda-feira, 8 de março de 2010

ENTREVISTA: Lauro Nightrealm (Incinerad)

“Não toco em banda por que sou músico, toco por atitude!”

Ele capitaneia a única banda de Death Metal da cidade, o Incinerad! Divide muitas opiniões na cena, mas, como poderá ser comprovado na entrevista abaixo, não muda sua autenticidade um milímetro sequer e, mesmo com pouco tempo na cena, já tocou (e toca) em bandas de renome no Underground paulista, como Bestial Atrocity e Queiron, além do Incinerad! No próximo 16 de abril, com suas duas bandas, ele vai abrir o show para a lenda do Black Metal Marduk (SUE), acrescentando mais um “open act” de peso em seu currículo, que já conta com Obituary (EUA), Belphegor (AUS), Master (EUA) e Grave (SUE). Pode parecer pouco, mas não conheço muitos outros bangers na cidade que já tenham um portfólio desses. Com vocês, Lauro Nightrealm!

Lauro, você, apesar de ser bem conhecido na cena local, é relativamente novo. Poderia nos contar um pouco de você e de sua trajetória com bandas desde que começou tocar? Também cite suas principais influências.

Bom, acho que o grande fator que contribuiu para isso é simplesmente a minha paixão pelo Metal Nacional. No início eu buscava mais discos e K7s de bandas nacionais e ficava horas escutando. A partir de então comecei a ir em shows na região e fora do Estado, querendo ver pessoalmente a atuação destas bandas que eu ficava escutando em casa. A partir daí acabei criando um laço de amizade (eu e as bandas) e me correspondendo com elas. Ao contrário do que alguns dizem, isso não é “lamber o saco” da banda, e sim uma verdadeira atitude de apoio e respeito ao trabalho que elas fazem. Foi então que montei minha primeira banda, entre 2002 e 2003, chamada Arphelyon. Era uma banda de Heavy Metal, que inicialmente tocava alguns covers como Dio, Iron Maiden, Helloween, Gammaray etc. e também com algumas composições de nossa autoria, para acarretar em um trabalho mais profissional. Esta banda durou um ano e depois se extinguiu por diferenças musicais de todos os integrantes. Meses depois resolvemos voltar com a mesma, porém, tendo o mesmo fim ainda mais prematuro. Minhas principais influências são: Black Metal, Death Metal, Thrash Metal, Heavy Metal e Musica Clássica.

Como foi montado o Incinerad? Aliás, o que quer dizer (não só em termos de tradução) e o que simboliza o nome da banda?

Em 2006, eu estava à procura de verdadeiros guerreiros para iniciar um projeto com uma banda de Death/Black Metal. Foi quando, em uma roda de amigos, soltei tal assunto e o Dijalma David, que estava nesta me mesma roda, se prontificou a tocar baixo. Como o Dijalma era guitarrista, pensei comigo e disse a ele para não trocar sua guitarra num baixo, o que não adiantou. No dia seguinte, ele foi pegar seu baixo, reforçando ainda mais a idealização do projeto. Bem, agora faltava uma peça de suma importância para a conclusão definitiva de uma suposta banda: um baterista! Ao conversar com um grande irmão de anos chamado Flávio (atual baixista do Incinerad), acompanhado de uma amiga (cujo nome não me lembro agora), comentei que estava à procura de um batera. A mesma me disse que tinha um amigo que estudava com ela que tocava bateria e era um grande apreciador da musica extrema, chamado Emanuel. Peguei o telefone dele com essa garota, liguei na seqüência e marcamos de nos falar pessoalmente no dia seguinte. Ao conhecê-lo, Emanuel me convidou em ir até sua casa para vê-lo tocar. Fiquei completamente surpreendido com a tamanha velocidade e precisão que ele tinha, típico e verdadeiro baterista de Death Metal, além de ver que ele era bem novo, pois tinha somente 16 anos na época, e já tinha grandes influências musicais no seguimento extremo como Krisiun, Cannibal Corpse, Carcass etc. Já com todas as peças completas, iniciamos nossos primeiros ensaios. Como não tínhamos local próprio para ensaiar, duas grandes pessoas que nos deram um imenso suporte. Um foi o Tiago e outro grande irmão, que já não está mais entre nós, o Marcão, ambos do Kranio. Começamos a ensaiar na casa do Tiago e foi lá que saiu nossas primeiras composições e nos vimos como uma banda de verdade, pois vi que tínhamos um grande potencial. Agora só faltava um nome para a banda. “Mas qual?” Queríamos um nome forte e que simbolizasse o caos, a destruição e derivados. Como tínhamos uma cabeça um tanto que conservadora em relação ao Metal, queríamos que a chama do antigo Metal queimasse os novos tempos, desmistificasse a raiz e desfragmentasse esta essência. Com isso surgiu o nome “INCINERAD” que significa (obviamente) incinerado, queimado, carbonizado etc. A simbologia para nós é essa, não só o nome, mas sim a banda como um todo, pois ser uma banda de verdade não é apenas empunhar um instrumento e ser um pseudo-filósofo. Ser uma banda de verdade é ter atitude. E isso nós temos!!!

Agora que você entrou no Queiron, sua agenda deve ter ficado apertada. Como fica pro Incinerad agora? Qual das bandas é sua prioridade e quais são os planos futuros pro Incinerad?


Isso dá pra ser maleável. Pois ensaio em Capivari com o Queiron, aos sábados, e aos domingos, com o Incinerad. Até então, minha atuação no Queiron não está prejudicando o Incinerad, pois todos nós somos amigos já há algum tempo e nos entendemos bem neste ponto. Então, não digo que tenho uma prioridade por tal banda, mas sim uma prioridade por necessidade. Nós do Incinerad pretendemos estar estourando tímpanos e proliferando o terror sonoro, como toda banda extrema deve ser!

Como foi sua passagem pelo Bestial Atrocity? O Baron é um cara absolutamente conhecido e respeitado na cena Death do Brasil...

Sim, o Baron Von é uma pessoa bem influente no cenário nacional. Não por ser o líder do Bestial Atrocity, mas sim por ser um grande guerreiro que luta por nosso cenário metálico. Eu o conheci em umas de minhas peregrinações pelos eventos mundo afora. Temos a mesma paixão pelo Metal e por nosso Underground! Foi então que, no final de 2008, ele me convidou para fazer um teste no Bestial Atrocity. Fui encarregado de tirar cinco músicas para iniciar o teste, mas fui no dia da avaliação com 15 (N. do R.: Quinze!!! Caralho!!!) sons tirados. Neste mesmo dia fui oficializado como membro efetivo da banda. Ser um Bestial Atrocity foi algo muito satisfatório para mim, pois conquistei mais aliados e grandes amizades, além de poder tocar com o Grave, da Suécia. Foi uma experiência extraordinária tocar com o Baron e o Bestial Atrocity!

Por que a banda acabou logo depois que você entrou?

Quando eu entrei, a banda já estava passando por algumas turbulências. Alguns integrantes estavam com problemas pessoais, o que fez que a banda entrasse em um estágio de “desempolgação”. Fizemos alguns bons shows e criamos algumas músicas, mas isso não segurou firmemente o desânimo. Sendo assim, todos chegaram em um consenso que o melhor a se fazer seria imortalizar o nome “Bestial Atrocity” para ser memorizado com grandes glórias e batalhas.

Como é integrar o Queiron, uma banda renomada do cenário nacional e muito conhecida?

Conheço o Queiron desde que ingressei no Metal Extremo. Conheci seus discos e os conheci pessoalmente em algum show por aí, não me lembro onde agora. Sempre que podia, eu ia prestigiar eles (como faço com várias bandas) em algum som e trocávamos idéias tomando cerveja no bar. Em agosto de 2009, o Marcelo Grous (líder da banda) me ligou relatando o que estava acontecendo com eles, necessariamente com o baixista, o Tiago Furlan, que já tinha os comunicado que não poderia mais seguir na batalha, e foi aí que o Marcelo me convidou a fazer um teste. Eles estavam vendo mais algumas pessoas para o teste e, somente no meu terceiro ensaio com a banda, todos os integrantes foram unânimes em me efetivar como membro definitivo, por ser o que mais se destacou e por possuir a mesma cabeça que todos, de acordo com eles.

Você originalmente é guitarrista. Como foi sua adaptação para o baixo, no Queiron? Ainda dá aquela travada na mão da palheta ou foi tranqüilo?

Te digo que pensava que fosse mais complicado. Demorei aí uns dois meses para me acostumar totalmente com um baixo, pois toco guitarra desde meus 15 anos. Como o Queiron possui um som mais técnico e riffs bem rápidos, isso dificultou um pouco no inicio, mas agora estou 100% adaptado com esse “novo instrumento”, já explorando ele de todas as formas possíveis.

E essas oportunidades de abrir shows de bandas gringas? Como você se sente abrindo shows para bandas que te influenciaram, como o Marduk e o Master agora? Você fica meio “tímido” e com aquele sentimento de “fã babão” quando vê os caras, ou fica de boa?

Me porto normalmente quando nos falamos (rs). Conheço grandes nomes no cenário Extremo mundial e mantemos contato com uma certa freqüência com bandas como Belphegor, Hate, Setherial, Grave, Equinoxio, Enthroned, Severe Torture, o próprio Marduk e várias outras. Recentemente tive a oportunidade de conhecer os integrantes do Master (EUA), uma das bandas de Death Metal mais antigas. Foi um prazer imenso poder conhecê-los pessoalmente, pois são grandes pessoas e verdadeiros amantes do Metal Extremo.

Vamos falar do Death Metal. Eu vejo que o público da cena Death sempre anda com o visual característico do estilo, sempre de preto, com braceletes, couro, coturno, corpse paint etc. Qual a simbologia e a importância disso? Não seria uma “moda” dentro do Rock em geral?

Acredito que não, pois se analisarmos bem, o Death Metal é um estilo que poucos gostam, falando do mundo Rock em geral. É claro que sempre tem os “oba-oba” no círculo, mas 90% deles pára de curtir, muda de estilo e/ou vira cristão. A simbologia de um visual carregado é para exaltar nossa apreciação pelas as artes obscuras que o Metal Extremo proporciona. Por isso que são para poucos e espero que continue assim, para ser bem franco, pois essa nova onda de “Metal Moderno” não está com nada, em meu ponto de vista.

Todo Deathbanger é necessariamente satanista ou anticristo? Você tem alguma religião ou segue alguma coisa nesse lado espiritual?

Esse é um assunto um tanto que delicado. Mas vamos dizer que sim: tenho um lado espiritual um tanto que exótico, trilhado pelos caminhos da mão esquerda.

Disso eu não entendo e gostaria de saber: o Death Metal e o Black Metal são “irmãos” ou são totalmente diferentes? Quais as principais características de cada um?

Sim, o Death Metal e o Black Metal são grandes irmãos! Ambos defendem uma postura contra o cristianismo e vão totalmente contra as morais cristãs. As sonoridades agressivas de ambos os estilos são justamente para exaltar nosso desprezo. O Death Metal relata isso de forma mais catastrófica e caótica. Já o Black Metal é mais na cara, com blasfêmias diretas. Estas são a principais características, mas claro, tem muito mais além disso aí.

Eu percebo que a cena do Metal Extremo, em geral, é uma das mais unidas no Brasil. É verdade isso ou também rola aquela ciumeira e competição típicas dos outros estilos?

Entre os verdadeiros guerreiros nossa irmandade é única e sólida. Formamos a Extrema Aliança. Mas sempre tem aqueles que gostam de falar mais que a boca, por ciúmes ou inveja. Particularmente, eu não dou a mínima para esse tipo de pessoa, pois “a inveja é uma forma berrante de homenagear a superioridade alheia.”

Sou um apreciador da Língua Inglesa e fico muito curioso para saber por que diabos vocês sempre trocam a letra “U” pelo “V” nos nomes das músicas e dos discos? (rs)

No latim arcaico, os cristãos utilizavam o “V” no lugar do “U” nos testamentos bíblicos e sacros da época. Esse tipo de escrita era a mais utilizada por eles. Então, fazer a substituição destas letras, em nosso contexto, é considerado uma sátira, uma blasfêmia aos olhos cristãos.


Outra coisa que eu admiro absurdamente na cena Death Metal é a mulherada! Meu, como tem mulher gata no meio de vocês, hein? Basta olhar o seu perfil no MySpace pra comprovar... (rs)

(Risos) Sim, é verdade. Antigamente não tínhamos muitas dessas lindas mulheres em nosso círculo. Hoje em dia até me espanto como as mulheres estão gostando com extremo fervor das artes relacionadas ao Metal Extremo. Em relação ao meu MySpace, aqueles lindas damas que estão em minha pagina inicial, são pessoas que tenho uma ótima relação e as considero verdadeiras irmãs. Mas confesso que o índice de presença feminina em nosso cenário aumentou bem.

Os timbres de guitarras no Death Metal são bem particulares e distintos. Pra mim o pontapé inicial disso foi o “Eternal Devastation”, do Destruction, que nem Death Metal é... Qual é o equipamento que você usa e qual a regulagem no ampli e no pedal para conseguir a verdadeira distorção Death Metal?

Acho que essa parte de timbre é uma coisa bem particular de cada um. Cada um gosta de um determinado timbre que se adapta melhor às propostas sonoras de cada banda. Eu atualmente uso uma guitarra “Schecter Demon 7FR” de sete cordas, um pedal “Hell Babe”, da Behringer, um pedal “V-Tone”, da Behringer, uma pedaleira “Zoom 505II” para efeitos e ajudar na equalização, um pedal “Noise Supressor”, da Behringer, para tirar saturação, e um pedal Maximazer para masterizar e definir o som de minha guitarra. A regulagem do ampli fica com todos botões no meio, pois o grande segredo está na regulagem nos pedais, onde tenho uma para cada ambiente que vou tocar.

Você estuda ou pratica guitarra hoje em dia? Pergunto isso porque pra tocar Death Metal na velocidade que ele exige devem ser necessários muitos anos de treino...

Para ser bem sincero, e todos que me conhecem sabem bem disso, eu nunca fiz aula de guitarra em minha vida! Fui autodidata neste quesito de guitarra (rs)! Mas sempre fui uma pessoa interessada em aprender algumas técnicas, além de eu amar tocar guitarra. Mas cada um tem sua pegada, seu estilo e sua identidade para tocar. Não sou nenhum músico e nem pretendo ser para falar a verdade. Não toco em banda por que sou músico, toco por atitude!!!

Todo mundo curte alguma banda ou artista que não tem nada a ver com Metal e com o Rock em geral. Quais são as bandas/artistas que você fica com vergonha de admitir que curte? Não vale falar de música clássica! (rs)

(Risos) Com certeza gosto de estilos que não possuem relação com o Metal de certa forma! Além de gostar da Música Clássica, gosto também de alguns Hardcores, Tears For Fears, Michael Jackson, Frank Sinatra, Michael McDonald (1982), Teddy Pendergrass (1977), Howad Shore, música ambiente folclórica Egípcia, Celta, Maia e Grega, música ritualística como Coph Nia, Elend, e Jacula. Não tenho nenhuma vergonha em dizer de gosto de outros estilos musicais. Muito pelo contrário! Esses gêneros citados acima fazem parte de mim também. Mas sei que sou um amante fervoroso do Metal e isso pra mim já basta.

É isso! Obrigado pela entrevista! Gostaria que você deixasse um recado para os leitores do IRZ.

Leo, muito obrigado pelo espaço concedido! Espero que o Indaiá Rock Zine continue sempre em ascensão! Somos poucos, mas sonos unidos, a verdadeira Aliança Extrema!!!

SVPREME SANCTVS METAL HEX




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