quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lançamentos de 2009 resenhados - Parte 2

É isso aí! Ainda em 2009! Último post do ano! Espero que gostem e que, principalmente, COMENTEM AQUI no blog! É, porque é o meu melhor termômetro pra saber se querem, ou não, me bater por conta das minhas opiniões (rs)! É isso! Obrigado a quem teve a paciência de nos acompanhar nestes primeiros meses! Um ótimo 2010, com muito Rock para todos!

Slayer - World Painted Blood
Nota: 7,5


Definitivamente este não é um caso de “amor à primeira ouvida”! Para uma banda como o Slayer, que todo mundo já sabe a história, quem eles são e do que são capazes, uma nota 7,5 é praticamente passar de ano raspando, com aquele cincão que o professor te deu por dó só pra não te deixar de “DP”. Que fique claro desde já: não é um disco ruim! Longe disso! Mas para quem já soltou um “Reign In Blood”, este WPB está bem abaixo da média. Ok, querer comparar com o clássico dos clássicos do Thrash Metal é até mancada, mas é que não consigo tirar da minha boca aquele gostinho de decepção ao ouvir este álbum. E olha que ele não sai do meu MP3 e eu já até comprei o CD pra coleção (rs)! Afinal, o que tem de “ruim” nesse play? Ele é forçado e, infelizmente não tem aquele punch desgracento característico do Slayer. O último que teve isso foi o “God Hates Us All”, de 2001. Pô, quem não tem vontade de dar porrada ao escutar “Payback”, por exemplo? Aqui não temos isso em nenhum som e, os mais porradas, como “Unit 731” e “Public Display of Dismemberment”, apesar de fodões, não empolgam tanto. O primeiro, aliás, tem uma intro que lembra bastante a “Necrophobic”. O problema é que, não se sabe o motivo, Dave Lombardo está lerdo em seu kit de batera. Claro, o “lerdo” desse cara ainda é muito rápido, mas, por exemplo, a velocidade máxima imprimida em qualquer faixa desse disco não pega uma “Dittohead” ou a própria “Necrophobic”. Outra referência ao passado aparece em “Snuff” (algo como “fungada” ou “baforada”, em Inglês), que tem o início com aquele solo “torto” do Jeff Hannemann, lembrando muito a “Captor of Sin”. Temos também alguns sons mais lentos, como “Human Strain” e “Beauty Through Order” que, pra mim, estariam muito bem no “Diabulos in Musica”. As melhores do play são “World Painted Blood”, “Hate Worldwide” e “Psychopathy Red”. A primeira é um Thrash com andamento devagar (!!!), mas possui alguns riffs bem legais e diferentes do que o Slayer costuma fazer, sem contar que o final lembra (de novo uma referência ao passado!) o final de “Angel of Death”. A segunda é um som rápido, curto e grosso, com solos legais e uma base bem marcada. A terceira, a melhor de todas, além de uma produção superior, é a que mais passa aquele sentimento de querer dar porrada como em “Payback”, sem contar que o refrão tem um riff que lembra (mais uma vez!) sons como “Hell Awaits” ou “Postmortem”. Outro fator que pesa negativamente é o timbre das guitarras. Ele está seco demais, com pouca distorção, lembrando algo na linha do AC/DC. Isso, com as palhetadas rápidas de Kerry King e Jeff Hannemann, deixa muitos buracos e tira o peso do som, contando ainda com o fator “ausência do baixo”, sempre “presente” nos discos do Slayer. Em suma, é um disco bom, mas ainda assim, muito aquém se ele for tratado (e deve ser) como uma obra do Slayer.


Lamb of God - Wrath
Nota: 9,0


Quem não se lembra daquele vídeo de “Black Label” ao vivo no Hellfest 2003, numa tenda em um daqueles festivais undergrounds americanos? Esse vídeo foi a “escola” dos movimentos que vemos em qualquer moshpit hoje em dia! Além disso, ele trazia uma banda até então desconhecida, mas muito boa, com um vocalista malvadão, dois guitarristas com uma pegada absurda e presença de palco idem, e um batera que poderia muito bem ministrar workshops em qualquer conservatório de música do mundo. O nome era estranho, Lamb of God, mas mesmo assim pegou! Hoje, pra mim, esses caras estão suprindo muito bem o vácuo que o Pantera deixou na cena! E não digo isso só pelo timbre e presença de palco do insano vocalista Randy Blythe, que lembra muito Phil Anselmo, mas também pelo incrível groove e peso que eles empregam em seu som, assim como a banda o saudoso Dimebag fazia com primor. Mesmo completando 20 anos de estrada agora em 2010, e depois de lançarem dois discos de sucesso na cena, “Ashes of the Wake” e “Sacrament”, ele ainda demonstram um pique de “iniciante” incrível neste “Wrath”, um disco que faz jus ao nome. “Ira” é tudo o que encontramos aqui, mas de maneira muito bem elaborada, com riffs ainda mais trampados e perfeitos pra bater cabeça, solos de deixar os guitarristas do Iron Maiden orgulhosos e vocais cavernosos! Tudo envolvido por um peso absurdo de uma timbragem bem grave, porém muito bem definida pela ótima produção de Josh Wilbur. O play começa a intro “The Passing”, que resgata aquela tradição dos discos oitentistas de Thrash Metal com dedilhados e lindos solos dobrados de guitarra, para cair na pancadaria desgracenta de “In Your Words”, que entra com um riff martelado e explode em seguida num berro “assusta-criancinha” de Blythe. A partir daí é só porrada, com os dois singles “Set To Fail” (que blast beat coeso!) e “Contractor” (deliciosamente inconsequente). Lembra que eu falei de solos de guitarra? Eles não eram tão presentes na música do “Cordeiro de Deus” até então, mas nesse disco, Mark Morton e Willie Adler resolveram mostrar que não passaram a adolescência praticando guitarra à toa! Escute os de “Everything To Nothing” e “Choke Sermon” pra entender o que digo! Aliás, o solo da primeira tem uma passagem que me lembra a vinheta de abertura do Globo Repórter (rs)! Não foi à toa que este play estreou em 2º lugar na Billboard! Confira ele na íntegra no MySpace dos caras!


Killswicth Engage - Killswitch Engage
Nota: 6,5


Quem me conhece sabe que nunca fui fã do KSE. Mas mesmo assim sempre admirei os breakdowns e as guitarras dobradas bem trampadas que esses americanos sempre colocam em sua música. O ponto que fez eu nunca virar fã deles é a aquela formulinha que eles seguem em insistir disco após disco, talvez por achar que isso faz parte de um estilo novo que supostamente eles estariam criando. Eis a fórmula: “a gente começa a música no arregaço, com guitarras dobradas, bumbo duplo, vocal urrado-assusta-criancinha e aí, quando chegarmos no refrão, toda a destruição descamba pra melodia mais bela que pudermos fazer.” Assim eles forjaram a sua carreira de sucesso! É, mas chega uma hora que repetição enche o saco até de masoquista e, como toda banda sempre tem um disco ruim na carreira, creio que este é o dito cujo do KSE. A questão é que o KSE sempre circulou no meio do Metal devido às partes pesadas de sua música. Normalmente os ouvintes casuais da banda “aturavam” essas melodias empregadas nos refrãos e deixavam a parte pesada “compensar”. Só que nesse auto-intitulado play eles extrapolaram nos elementos melódicos e nas partes lentas, criando um disco bem pop e chorão, ainda que com guitarras pesadas. Claro, há sons excelentes, como “Take Me Away” e “The Forgotten”,com todos os elementos característicos que consagraram a banda. Este primeiro, inclusive começa com guitarras de dar orgulho a Adrian Smith e Dave Murray e tem uma melodia no refrão que você pode colocar pra jantar com sua mulher sem parecer piegas. Mas ao lado disso tem as melodias mais chorosas e os momentos mais “emo” do KSE, como “Starting Over”, onde nem mesmo a levada cavalgada a lá “The Trooper” salva o caldo. Esses momentos do disco me fazem crer ainda mais na teoria de que quem participa e apóia essa tal cena do “metalcore” são os órfãos da primeira leva do “emo”, que se utilizava do poppy punk (ou Hardcore melódico se assim faz-se entender melhor) na primeira metade da década. Hoje em dia, esse pessoal evoluiu como instrumentista e faz o tal do “metalcore” como forma de expressão, já que ele usa elementos pesados pra mascarar a choradeira do pano de fundo. O legal é que modinhas sempre morrem...


Kiss - Sonic Boom
Nota: 8,0


A banda mais marqueteira do mundo voltou em grande estilo! Esse “Sonic Boom” lembra os melhores momentos dos mascarados e pode ser colocado ao lado dos clássicos que eles fizeram na década de 70 sem que isso soe como uma profanação! Imaginem se o “Destroyer” ou o “Hotter Than Hell” (meu favorito) tivessem uma produção com os recursos tecnológicos de hoje? Seria algo bem próximo deste play! É aquele Hard Rock rasteiro, malandro e festeiro que só Gene Simmons e Paul Stanley sabem fazer quando se propõem! Junta-se isso com a competência de músicos como Eric Singer e Tommy Thayer e tem-se um disco gostoso de ouvir, com músicas de puro Rock n’ Roll, como o próprio Gene avisou antes do lançamento! Pegue a música de abertura e primeiro single Modern Day Delilah, por exemplo, e você vai ter uma boa amostra de como fazer um Rock n’ Roll pesado e moderno, mas que é ao mesmo tempo uma música com aquele groove setentista que só o Kiss tinha! O resto do play é pura festa! Os vocais de Stanley estão vigorosos como sempre! O baixo de Gene está gorduroso e pesado como o Deus do Trovão! Thayer faz solos no melhor estilo Ace Frehley, mas sem conseguir disfarçar sua técnica apurada latente! Singer segue sólido como uma rocha na batera! Nem mesmo os momentos “vamos-fazer-um-som-pra-pegar-mulher”, como o corinho a lá “God Gave Rock n’ Roll To You” em “Stand” estragam a obra, porque, como já disse: esse disco é pura festa!


Massacration - Good Blood Headbanguers
Nota: 9,0


Eles voltaram! Quem não gosta da piada, que pule esta resenha, porque eles estão ainda melhores! Absolutamente tudo que fez o Massacration a banda mais amada e odiada do Brasil está presente nesse Good Blood Headbanguers (com “guers” mesmo), só que ainda mais extremado. Os fãs de bandas com a “postura Manowar” certamente ficarão com as cabeleiras ainda mais de pé e criticarão sem piedade! Mas, quem já é crescidinho e entende a proposta, certamente estará diante de um dos melhores plays de metal tradicional já produzidos por brasileiros, sem desmerecer nenhuma outra banda! A produção do tarimbadasso parça do Bruce Dickinson Roy Z deixou a timbragem dos instrumentos simplesmente mortal! As guitarras estão absurdamente pesadas sem precisar utilizar o recurso da afinação mais baixa. Nos solos, Roy Z deixou um timbre muito, mas muito oitentista, cheio de delays e reverbs. Escute o da balada “The Bull” e você vai ser transportado direto para o clipe de “One Track Mind” do Motorhead! Essa balada, primeira da banda, aliás, é o melhor som, disparado, tanto no quesito “piada”, como no quesito “som”. Todos os clichês do Heavy Metal estão aqui da melhor e mais cativante forma, que qualquer headbanger (com “ger” mesmo...rs), se souber relevar a piada, baterá cabeça sem dó ao ouvi-la. Tem o dedilhado, a narração com voz profunda, os gritos agudássos, os riffs cortantes. Enfim, tudo o que uma boa canção de Heavy Metal deveria ter e as bandas de hoje parecem ter esquecido como fazer. Tem uma menção à infância nos 80’s em “The Mummy”, com o “tumba-la-catumba-tumba-ta” da Vovó Mafalda! Tem também uma homenagem aos mestres no riff de “The Big Heavy Metal” que remete muito à “Iron Man” daquela banda que vocês conhecem muito bem. Nem preciso falar que nas letras eles se superam, pois, sinceramente, eles poderiam cantar em russo aqui, que esse play ainda seria fodasso! Uma vez eu li um entrevista do Pompeu, do Korzus, dizendo que apesar de boa banda, o Massacration tomava espaço de bandas que estão há anos na estrada fazendo um trabalho sério. Mas, puxa, Heavy Metal também é entretenimento e, com esses malucos aqui, isso é garantia certa da melhor das diversões!


Alice In Chains - Black Gives Way To Blue
Nota: 8,5


Como é que você marca a reunião de sua banda após mais de dez anos e ainda sem o carismático vocalista original, que morreu de overdose? Loucura, né? Mas tem gente que faz dar certo, igual nosso amigo Jerry Cantrell. Primeiro, ele arrumou um vocalista substituto à altura (ou seria um “copiador” à altura?) de Layne Staley, William DuVall. Depois compôs o material mais pesado e mais parecido com os discos que catapultaram a banda como uma das melhores dos anos 90. Tendo tudo isso, aliado à sua habilidade musical e à de parceiros como Mike Inez (B) e Sean Kinney (D), não tem como dar errado! E não deu! O AIC acertou em cheios neste “Black Gives Ways To Blue”. As músicas continuam com aquele clima soturno, mas têm o acento pop necessário para não virar uma chatisse. Fora o peso descomunal que Cantrell impõe nas seis cordas. O primeio single, “Check My Brain”, e a seguinte, “Last Of My Kind”, tem um quê de Black Sabbath muito gostoso de saborear. Não é nem necessário falar dos solos, já que é Cantrell no comando das guitas! Também tem ótimas baladas, como “Your Decision”, onde a voz principal é feita pelo guitarrista. Claro! Experiente como sempre, Jerry Cantrell põe sua voz em todas as músicas, como meio de “camuflar” qualquer desconfiança sobre DuVall e deixar o som com a cara de AIC. Mas, vendo vídeos ao vivo no You Tube, Duvall não faz feio nem nas músicas antigas e é praticamente um ex-vocalista de banda cover do AIC!


Claustrofobia - I See Red
Nota: 8,5


Acho que não tem banda mais famosa que tenha saído das seções de demo das revistas de Rock do Brasil. Sem contar que eles têm em média 26 ou 27 anos de idade e a banda já existe há uns 15 anos (!!!). Neste “I See Red” (algo como “sangue-no-zóio”) o Claustrofobia segue com seu legado de brutalidade em 13 novos sons e mais dois covers. Apesar de tão esmagador quanto o disco anterior, “Fulminant”, o “I See Red” mostra que o grupo está pendendo mais pro Thrash Metal e se distanciando um pouco o Death Metal. Os blast-beats diminuíram, mas a velocidade empregada continua absurda. Caio D’Angelo, apesar de ser baixinho e pouca gente dar alguma coisa pra ele, é um monstro na batera, um dos melhores do Brasil. O mais rápido já acho com certeza, já que não acho blast-beat algo necessariamente rápido, sem contar que é mais fácil de fazer do que agüentar levar uma música tipo Slayer por mais de cinco minutos. O melhor som do play é, sem dúvidas, “Don’t Kill The Future”. Um verdadeiro míssel thrash, nem tão rápido, mas com uma levada foda, de tão empolgante! E os riffs então, estão cada vez mais técnicos! O legal do Claustrofobia é que eles são cabeça-aberta e não fazem a mínima questão de esconder suas influencias Hardcore, dando uma pitada de brutalidade a mais no play. Ah, os dois covers? “Beneath The Remains”, do Sepultura, e “Filha da Puta”, do Ultraje a Rigor, em versões fantásticas!


Heaven & Hell - The Devil You Know
Nota: 8,0


Puta merda! Não tem nem o que falar de uma banda com essa formação! Acho que todo mundo já ouviu esse play e todo mundo sabe que ele é tão foda quando o “Heaven & Hell”, ou o “Mob Rules”, ou o “Dehumanizer”, né? Tony Iommi continua o mestre supremo na arte de fazer riffs pesadíssimos, sombrios e cortantes! É só escutar “Fear” ou “Bible Black” pra constatar que ele não se estagnou e continua criando riffs como se o Black Sabbath, ou melhor, o Earth tivesse começado ontem! Vinnie Appice é sólido como uma rocha e dá todo o pano de fundo necessário para o peso da banda. Geezer Butler também é um dos tiozãos mais foda do mundo, com linhas de baixo pesadíssimas e na composição de alguns dos melhores riffs! E o Dio não teria outro sobrenome em italiano, senão esse de “DEUS”! Quem me dera chegar na idade desses senhores e ainda ter culhões pra fazer um som pesado desses com essa classe e categoria! Eles são foda! Por que nota “8,0” e não “10”? Porque mesmo com tudo isso, acho que ainda faltou aquela coisa que todo clássico do Metal tem. Talvez com o tempo ele vire o tal clássico, mas por enquanto...


Mike “Cyco” Muir - Year Of The Cycos
Nota: 8,5


Ué? Mas não é o novo do Suicidal Tendencies? Não! Trata-se de um disco novo que tem músicas de TODOS os projetos do Mike Muir. Ou seja, temos sons do Suicidal Tendencies, do Infectious Grooves, do Cyco Miko e do No Mercy! Tudo som novo, com as novas formações! É até difícil de resenhar, já que o estilo das bandas difere bastante, apesar de ter sempre a mesma pegada e o mesmo vocal. Dos sons do Suicidal vale destacar “Come Alive”, que tem até clipe, e “Cyco Side Of The Brain”, com um puta groovão funkeado, que não sei como ele não gravou isso como IG. Também tem uma versão ao vivo de “Cyco Vision” muito matadora. Só quem já viu sabe como Mr. Muir e sua(s) banda(s) é foda ao vivo! Legal que com o Cyco Miko ele regravou “Two Wrongs Don't Make a Right (But They Make Me Feel A Whole Lot Better)” do “Join The Army”, clássico de 1987 do Suicidal! E ficou melhor que a original! Que aula de HC é esse som! E com o IG ele continua dischavando, mostrando pro mundo como se faz o melhor dos funks! De qualquer forma, seria mais legal se viessem quatro full lenghts das bandas! Nem queria mais nada, né (rs)?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um banquete no camarim do Metallica!

Depois ainda perguntam por que existem tantas bandas por aí! Quem não ia querer ter um emprego desses: você toca nos melhores lugares, por ter a mulher que quiser para uma única noite de sexo (os solteiros, é claro! rs), tem patrocínio dos melhores instrumentos, se hospeda em hotéis 5 estrelas, tem assessores, roadies pra trocar a corda da sua guitarra (quem me conhece sabe que é meu sonho...rs), pode quebrar tudo que a produção do show se responsabiliza pela conta (os caras do Pantera eram os mestres nisso), ou você mesmo pode se dar esse luxo, e, por fim, pode fazer as exigências de camarim mais incríveis e exorbitantes para seu camarim!
Eu me lembro muito bem da uma parte do vídeo “One year and a half in the life of Metallica” onde Mr. James Hetfield tira o maior sarro das exigências de camarim do Axl Rose, quando sua banda excursionou com o Guns n’ Roses. Ele falou do champagne, do mel “to sing like this” e dos frangos que o Axl pedia em sua enorme lista, pra depois jogar ela no chão e pisar em cima. Acho que hoje em dia ele já percebeu que o mundo dá muitas voltas...
Eis que, às vésperas da banda tocar no Brasil, aparece na Internet a lista de exigências de camarim da atual turnê deles. Qual foi minha surpresa? A lista é tão extravagante quanto àquela mesma que Hetfield pisou em 1992! Tem tanta coisa aqui que você imagina que se eles consumirem isso antes do show, certamente morrerão de congestão estomacal! Na certa eles devem odiar comida de hotel e deixarão pra jantar (junto com toda sua família, crew, amigos e convidados) no camarim, ou eles devem enviar tudo para suas casas após o show, para que suas esposas não precisem fazer o supermercado do mês (rs)! Eu imagino o coitado do funcionário da produtora dos shows no Brasil que terá que correr atrás de tudo isso nos supermercados daqui. O cara vai precisar de um caminhão pra trazer tudo! A grande surpresa é a pouca quantidade de bebida alcoólica pedida, reflexo da reabilitação do James, certamente.
A lista completa está abaixo e fala por si. Eu tinha encontrado ela em Inglês e, posteriormente, a traduziria aqui, mas acabei achando uma tradução do colunista Roger Lerina, do jornal gaúcho Zero Hora. Só mudei algumas coisinhas na tradução dele...
------------------------------------------------------------------------------------------
METALLICA DRESSING ROOM CATERING RIDER
(Guia de abastecimento do camarim do Metallica)


Todas os ítens a seguir devem estar no camarim aproximadamente quatro horas antes do início do show.

Os alimentos orgânicos podem ser encontrados em lojas como Whole Foods, Wild Oats ou qualquer outro bom ponto-de-venda de produtos saudáveis.

Nós sabemos que esta lista é extensa e complexa, agradecemos sua ajuda.

Bebidas

• 2 coolers contendo 25 kg de gelo limpo e consumível

Por favor, providencie as seguintes bebidas, nós as colocaremos em nosso refrigerador:

• 12 latas de refrigerante tipo cola (6 light)
• 6 latas de refrigerantes
• 6 latas de energético
• 6 latas de energético sem açúcar
• 18 garrafas de 500 ml de água mineral com gás (em garrafas plásticas, por favor)
• 2 litros de leite desnatado
• 2 litros de leite de soja não-adoçado e fortificado com vitaminas
• 12 porções de 500 ml de suco de laranja (não feito com concentrado)
• 2 litros de suco ORGÂNICO de maçã
• 12 garrafas ou latas de uma boa cerveja local
• Por favor deixe em temperatura ambiente
• 48 garrafas de 500 ml de aguá mineral (não da marca Evian, por favor)
• 9 garrafas de 1,5 litros de água mineral (não da marca Evian, por favor)
• 12 garrafas de 500 ml de Gatorade Lima Limão (também conhecido por Citrus)
• 6 garrafas de 500 ml de Gatorade Tropical (também conhecido com Red Orange ou Fruit Punch)
• 1 garrafa de 750 ml de Vodka Absolut
• 3 garrafas de um bom vinho italiano seco ou Pinot Noir francês (de 15 a 20 euros)
• 1 garrafa de um bom vinho francês seco Chardonnay (de 15 a 20 euros)

Comida

Por favor, faça todas as bandejas com porção para 8 pessoas. Espaço é importante então, por favor, faça-as pequenas.

• 1 bandeja de frios para oito pessoas incluindo presunto fatiado, salame fatiado e peito de peru fatiado (não coloque outra carne ou queijo nessa bandeja – obrigado)
• 1 bandeja com alface, tomate e cebola fatiados para sanduíche
• 1 bandeja com queijos provolone, suíço e cheddar fatiados para sanduíche
• 1 bandeja de queijos incluindo Brie, Gouda, Cheddar e um a sua escolha. Por favor, deixe-os inteiros.
• 1 bandeja de vegetais frescos com pepinos, cenouras, aipo, pimentas vermelhas, azeitonas e picles.
• 1 tigela pequena de húmus com fatias de pão integral [N.T.: húmus é uma pasta de grão-de-bico com gergelim e outros temperos, típica da cozinha mediterrânea]
• 4 iogurtes desnatados (de preferência sabor baunilha)
• 4 iogurtes gregos desnatados [N.T.: um tipo de iogurte mais espesso, similar a nata]
• 1 pote de molho picante
• 1 pote pequeno de maionese
• 1 pote pequeno de mostarda Dijon
• 1 pote de picles
• 1 tigela pequena de queijo parmesão
• 1 tablete de manteiga
• 1 tigela para 4 pessoas de salada verde (sem temperos)
• 2 sacos de ervilhas congeladas (por favor mantenha congeladas)
• 1 kg de filé mignon CRU (por favor, mantenha cru e não cozinhe – obrigado)
• 1 tigela de frutas com 4 maçãs verdes, 4 maçãs vermelhas, 4 pêras, 4 laranjas, 18 bananas, 1 manga, 1 mamão, 2 abacates, 2 pêssegos, 6 limas e 4 limões (inteiros e lavados)
• 4 porções de Blueberries (N.do R.: frutinha vermelha européia), se não for possível, por favor morangos (por favor lave e deixe na embalagem)
• 2 porções de framboesas (por favor lave e deixe na embalagem)
• 1 pão de fôrma fatiado multi-grãos e 1 pão de fôrma branco (para sanduíche) (por favor deixe na embalagem)
• 1 pacote de pães de cachorro-quente integrais (por favor deixe na embalagem)
• 1 pacote de salgadinho Tortilla Chips [Doritos] (por favor deixe no pacote – não abra)
• 2 pacotes de batas chips (por favor deixe no pacote – não abra)
• 1 pacote de petiscos (nozes e passas) (por favor deixe no pacote – não abra)
• 1 barra de chocolate suíço
• 1 garrafa squeeze com mel (N. do R.: imaginem encher um squeeze com mel! rs)
• 20 pacotes de açúcar

Comidas quentes – para antes de show (horário a ser definido no dia)

Por favor, sirva o suficiente para 8 pessoas em buffet aquecido (acredito que 3 buffets com cada item é o melhor já que espaço é importante)

Podem ser os mesmos ítens servidos para a equipe do Metallica (LOUÇAS NÃO DEVEM CONTER NENHUM ÁLCOOL).

• 1 prato de entrada de carne bovina ou suína
• 1 prato de entrada de carne de frango
• 1 prato de entrada VEGAN (nada lácteo, peixe ou carne)
• 1 pacote de cachorros-quentes de tofu (cozidos e servidos em água)
• Purê de batatas
• Vegetais (por favor, escolha entre brócolis, ervilhas, aspargos, couve-flor, milho, cenoura ou vagem)
• Espaguete ou macarrão a sua escolha (por favor, misture azeite para que fique solta)
• Molho de carne (bolonhesa)
• Molho marinara

Por favor, forneça os talheres adequados.

Utensílios e Condimentos:

• 4 toalhas de mesa
• 2 toalhas de mesa extras
• 75 copos plásticos de 500 ml
• 20 copos para café de papel (não de isopor, por favor)
• 2 rolos de papel toalha de alta qualidade
• 2 caixas de lenços (de formato cúbico se possível) (N. do R.: alguém já viu uma caixa em formado de bola?)
• 1 pacote de guardanapos
• 20 pratos em cerâmica
• 10 tigelas em cerâmica
• 20 garfos, colheres e facas (não de plástico)
• 8 taças de vinho
• 10 canecas cerâmicas para café (canecas, por favor, não copos - obrigado)
• 1 galheteiro com sal e pimenta
• 1 tábua de cortar
• 1 faca afiada
• 1 faca para queijos
• 2 abridores de garrafa
• 2 saca-rolhas
• 3 bacias para louça suja (sim precisamos de 3, por favor)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

OPINIÃO: Será o fim das revistas de Rock?

Texto publicado no blog The Hard Ways.

O pedido de demissão do redator Thiago Sarkis da revista Roadie Crew em fevereiro deste ano me deu um frio na espinha. A notícia soaria normal se não fosse uma lavação de roupa suja promovida por alguns membros remanescentes do staff da revista no orkut, após o anúncio de despedida do redator.

Cresci lendo, ou melhor, devorando todas as revistas de rock que existiam no Brasil na década de 90: Rock Brigade, Metal Head, a própria Roadie Crew (que pintou como revista mesmo só em 1998), Valhalla, Rock Press, ShowBizz e algumas outras “tentativas de revista”. Elas, por mais patético que pareça, influenciaram um adolescente de 17 anos, que não sabia que curso fazer na universidade, a escolher o Jornalismo, com a ilusão de um dia integrar o cast delas, entrevistando todos os ídolos e vendo todos os shows de graça! Aí a vida chega forte, todos os sonhos caem por terra, o adolescente acorda, desiste do sonho e, paralelo a isso, as próprias revistas de rock definham!

Pra falar a verdade, apenas três revistas me interessavam de verdade: Rock Brigade, Valhalla e Roadie Crew. A primeira que caiu foi a Valhalla, por motivos financeiros! Mesmo uma parceria com a revista gringa Rock Hard não foi suficiente pra segurar as pontas. Isso tudo depois da era da internet, onde tudo pode ser lido quase que ao vivo e as revistas perderam as oportunidades de dar “furos” e passar informações inéditas em primeira mão.

Depois acontece minha maior decepção: a Rock Brigade, não sei por que até hoje, demite, ou tem demitida, toda a sua redação (Antonio Carlos Monteiro, Fernando Souza Filho e Ricardo Franzin, praticamente meus heróis na profissão) e contrata um bando de jovens sem a mínima noção jornalismo. A qualidade da revista caiu assustadoramente e, como se não bastasse, a revista parou de circular em bancas, sendo vendida apenas pela internet. Juro que fiquei de cara um tempão por isso.

Aí tive que “engolir” a Roadie Crew, como única salvadora da pátria! Não que a revista seja ruim. Não é! Mas sempre achei os textos dela muito burocráticos e com pautas muito repetidas. Sempre que alguma banda lança um disco, a ordem da pauta pra entrevista é:

- como foi o processo de composição;
- como foi o trabalho com o produtor;
- como tem sido a recepção das músicas nos shows e as vendagens;
- quando vocês vão tocar no Brasil;
- deixe um recado para seus fãs brasileiros.

Eu juro que eles devem ter essa pauta genérica pronta pra todas as entrevistas! E meu, quem compra uma revista de rock quer, num primeiro momento, saber como pensa o seu ídolo, como ele age etc. Que se foda como foi feito o disco! Isso ele mesmo pode escrever no site da banda dele, sem contar que muitas bandas hoje em dia já fazem vídeos “making of” onde mostram tudo!

Sem contar que todas as respostas pra essa pautinha são sempre as mesmas: “esse é nosso melhor disco, o produtor soube extrair tudo de nós, os fãs têm adorados as músicas novas nos shows, as vendagens estão ótimas, pretendemos tocar em breve no Brasil e nós amamos vocês, brasileiros, e estamos doidos pra ir aí tocar, beber caipirinha e foder suas mulheres.”

Na verdade, ainda curto muito o trabalho do Antonio Carlos Monteiro, que, depois que saiu da Brigade, tem “colaborado” com a Roadie Crew. Ele, assim como seus ex-companheiros, tem a malícia, a irreverência e a inteligência para transformar qualquer entrevistinha com qualquer bandinha mixuruca em uma verdadeira aula de extração de respostas e “prendimento” do leitor! Nada na Brigade dos bons tempos era burocrático! Eles cutucavam a ferida do artista quando era preciso, sem dó, nem piedade! E perguntavam coisas que você poderia traçar um perfil do modo de pensar do entrevistado, cumprindo assim o papel da revista, jornalisticamente falando.

“Ok! Beleza! Vamos dar uma chance pra Roadie Crew, pois às vezes eles se superam e fazem entrevistas legais.” Eu pensava assim. Aí hoje, vendo a comunidade da revista no orkut me deparo com a “despedida” do redator Thiago Sarkis e com uma lavação de roupa suja no orkut. Não que o Thiago era o redator mais fodão da revista e tals. Nem é isso! Ele é ótimo, faz boas entrevistas e se supera às vezes (não chega aos pés do staff da antiga Brigade, mas dá pra levar). Mas isso mostra que tem incríveis tretas na redação da revista!

Parece que o povo tem trabalhado lá com a faca nos dentes e com a mão no pino da granada! Isso me dá a impressão que tudo pode acabar a qualquer momento! Que os caras da revista podem brigar, por dinheiro, por ego, por diferenças e, a qualquer hora, posso ficar sem nenhuma revista de rock pra ler, por mais fútil que isso pareça ao resto do mundo!

Isso me preocupa! Me chateia! Me desanima! E cá fico eu a ler cada vez mais blogs e acessar sites sobre música. Ah, mas isso, sem saber o perfil dos caras que fazem a música que eu idolatro! Seria até um possível fim dos meus ídolos na música? Como que eu vou curtir o cara se eu não sei o que ele pensa. Vou ficar só com a música mesmo? Que medo...

Lançamentos de 2009 resenhados – Parte 1

Sou um daqueles caras aficcionados por listas de discos! Assim como John Cusack no filme Alta Fidelidade (muito bom, por sinal. Assistam com seu parceiro[a]!), faço, todos os anos, uma lista com os lançamentos e fico avaliando, mentalmente, os melhores e o piores, e também os motivos. Em 2009 não foi diferente, entretanto, vou compartilhar com vocês aqui, breves avaliações de todos os lançamentos que ouvi, com nota e tudo mais. Com ajuda da nossa grande amiga Internet, tive acesso a 18 lançamentos esse ano. Alguns eu acabei comprando. Outros não agregam valor a minha coleção (quem gosta de lista de discos tem que ter coleção em casa). O legal é que medalhões como Slayer, Megadeth e Kiss soltaram plays em 2009 e, em geral, a qualidade destes é boa, o que torna a lista bem interessante. Bom, vamos começar...


Rancid – “Let The Dominoes Fall”
Nota: 9,5


Puta merda como esses caras são bons! Desde 2003, como mediano Indestructible, eles não lançavam um disco de inéditas. Em 2007 teve uma coletânea de B-Sides muito boa, mas nada tão legal quanto este “Dominoes Fall”. Todas as fórmulas que consagraram o Rancid estão nesse CD: punk rocks de três acordes e muita melodia (“Last One to Die”, a mais foda do play), skas espertos com gang vocals empolgantes (“Up To No Good”), hardcores rasteiros (”This Place”), reggaes pra relaxar (“I Ain’t Worried”), baladinhas “violão & voz” (“Civilian Ways”). Tudo temperado com a charmosa voz rouca de Tim Armstrong, os berros vibrantes de Lars Frederiksen e, para surpresa dos fãs, uma música inteira com os vocais do baixista Matt Freeman (“L.A. River”), coisa que não acontecia desde 2000. A produção é do guitarrista do Bad Religion Brett Gurewitz, “papa” da cena punk americana do início dos anos 90 e dono da gravadora Epitaph (responsável pelo lançamento). Segundo a Wikipedia, este disco estreou na posição 11 da Billboard, a mais alta já alcançada pelo Rancid. Pra quem curte um Punk Rock e não tem preconceito com influências de outros estilos, é um prato cheio!


Megadeth - Endgame
Nota: 8,0


Todas as resenhas que tenho lido estão falando que este disco é um novo clássico do Megadeth. Puxa, é um baita CD, mas tá muuuuito longe de ser um clássico no mesmo patamar de um “Rust In Peace” ou um “Countdown to Extinction”. Eu sempre me lembro de uma entrevista antiga do Mustaine, da época do Monsters de 1995, onde ele dizia que tocava com ódio e o Marty Friedman com amor. Esse ódio que ele fala transborda nesse play! Você pode sentir aquele ranger de dentes característico dele enquanto escuta qualquer riff ou solo. De fato, ele trampou bem aqui! Os destaques absolutos ficam para a faixa instrumental de abertura “Dialetic Chaos”, onde temos um duelo de guitarras inspiradíssimo, a que vem sem seguida “This Day We Fight”, um thrashão nervoso e raivoso, e para “Head Crusher”, que é literalmente um “esmaga-crânios”, com direito àquele riffão de palhetada pra baixo bem oitentista. Outra coisa que é destaque no álbum é o trampo da batera. Shawn Drover fora muito criticado nos álbuns anteriores, mas nesse ele arregaça! Já o novo guitarrista Chris Broderick não me empolga. O Mustaine disse que ele é o melhor que já tocou junto com ele, mas pra mim ele não passa de um professor de guitarra, que frita muito à toa, passando bem longe da beleza e do feeling transbordante que os solos do Marty Friedman tinham de sobra.


Nirvana – Live At Reading
Nota: 10


A nota 10 vai pelo contexto histórico! Quem acompanhou a carreira do Nirvana, sabe que o ponto mais alto e, talvez a melhor apresentação de todas, foi esse show no Reading Festival de 1992. O “Nevermind” estava estourando ainda. O sucesso só aumentava a cada dia e o vício de heroína do Kurt também. A história todo mundo já sabe de cor, mas o que ninguém podia prever é que a banda pudesse fazer um show tão foda quanto esse, com Kurt cantando absolutamente bem e a banda tocando com perfeição cirúrgica! No repertório temos praticamente o “Nevermind” inteiro e mais algumas do “Bleach” e do “Incesticide”, além das até então inéditas para a época “tourette's”, “All Apologies” e “Dumb”, que integrariam o “In Utero”. Há ainda dois covers obscuros ("The Money Will Roll Right In", do Fang, e "D-7", do Wipers) e muita energia! São 25 músicas, com direito a todo o falatório entre elas, além de risadas (!!!) de Kurt Cobain. To só esperando o DVD sair no Brasil pra garantir o meu (N. do R.: minha encomenda já chegou! :o) )!


Hatebreed – For The Lions
Nota: 8,5


Uma banda da cena Hardcore fazendo um CD de covers! Inusitado, né? Mais inusitado ainda se metade dos covers forem de bandas de Metal! Pois é, o Hatebreed fez isso e muito bem feito neste “For The Lions”. Como um CD que tem músicas de medalhões do Metal como Slayer (“Ghosts of War”), Metallica (“Escape”), Sepultura (“Refuse/Resist”) e Obituary (“I’m In Pain”) e, ao mesmo tempo, de bandas clássicas de Hardcore como Agnostic Front (“Your Mistake”), Madball (“Set It Off”), Sick Of It All (“Shut Me Out”), Black Flag (“Thirsty And Miserable”) e Merauder (“Life is Pain”) pode ser ruim? E ainda tem Suicidal Tendencies, Cro-Mags, Bad Brains, Misfits, D.R.I. etc. A execução das músicas é perfeita e, com exceção da afinação (que é mesma que a banda usa em suas músicas, “C”), todos os covers são tocados iguais aos originais, como (pra mim) qualquer cover deve ser. O único ponto negativo é para o vocal Jamey Jasta tentando cantar limpo no clássico do Metallica. Ficou forçado demais, infelizmente. Mas de resto é só alegria! Pura cacetada!


Hatebreed – Hatebreed
Nota: 8,0


Ainda estou digerindo este álbum. Citação estranha no caso do Hatebreed, pois todos os outros quatro anteriores de inéditas são praticamente partes de um mesmo disco. Até este play aqui, o Hatebreed ainda estava no seleto hall de bandas que não mudam seu estilo e lançam sempre o mesmo disco, como Ramones, Motörhead e AC/DC. Este é diferente mesmo! A influência do Metal corre forte, com muitas bases palhetadas com solinhos, solos Thrash Metal e pedal duplo comendo solto. Aliás, o destaque de execução aqui fica pro batera Matt Byrne, que certamente aprendeu muito tocando os covers do “For The Lions” e dispara levadas intricadas de bumbo como nunca. A velocidade também diminuiu um pouco. Parece que o Kingdon of Sorrow, projeto paralelo de Sludge Metal do Jamey Jasta com o guitar do Crowbar Kirk Windstein, exerceu muita influência. Legal que é o segundo lançamento da banda em 2009. Que banda hoje em dia tem moral pra isso? Entretanto, os comentários que ouvi desse play foram todos negativos, com o pessoal dizendo que achou estranho. Eu já acho uma atitude boa e vejo uma banda preocupada em não ser repetitiva. Afinal, gravar outro “Supremacy” ou outro “Perseverance” seria muito fácil e óbvio. Destaco as faixas “In Ashes They Shall Reap”, que lembra a “I Will Be Heard”, mas tem um refrão melódico, a velocíssima “Hands Of A Dying Man” e sua levada à Slayer, e “Everyonde Bleeds Now”, com seu peso mastodôntico e breakdown avassalador. É, de fato, diferente dos padrões “hatebreedianos”, mas inovação na carreira de qualquer banda só faz ela crescer!


NOFX - Coaster
Nota: 9,0


Até hoje não vi banda mais inovadora que o NOFX: “Coaster”, em inglês, é o famoso porta-copos, aquelas “bolachas” onde descansamos nossos chopes no barzinho. Já a versão em vinil deste play foi lançada com o nome de “Frisbee” (aqueles discos de jogar um pro outro na praia)! Fat Mike é mesmo um gênio criativo (rs)! Musicalmente falando, “Coaster” traz o NOFX em estado puro, com tudo que a banda já fez de melhor em sua carreira (e já são 26 anos), mas com riffs mais malvadões, influenciados pelo Metal. Este 11º disco dos caras traz as clássicas letras com o humor cáustico de Fat Mike, como “Eddie, Bruce and Paul”, onde ele conta a história da saída de Paul Di’anno e a entrada de Bruce Dickinson no Iron Maiden. Só que lendo a letra sem conhecer a história, parece que estamos diante de um triângulo amoroso gay!!! Quem mais conseguiria contar uma história com metáforas como esta? (rs) Outro ponto interessante do álbum é a faixa "My Orphan Year", onde, num raro momento de seriedade, Fat Mike conta a história do ano em que perdeu seu pai e sua mãe (2006). A letra é um relato sério e triste e, certamente, terá a identificação de muita gente que já passou por isso. Mas o que predomina é o clima de festa e bagunça, como no fantástico reggae "Best In God Show", cujo título fala por si só. Excelente!


Chimaira – The Infection
Nota: 8,0


Meu Media Player classifica este CD como "Groove/Post-Thrash/Metalcore"! Por aí já dá pra imaginar aquela mistureba que envolve vocais e batidas "ishpérrrtas" do rap, sussurros, pedal-duplo moendo, levadas “cisca-cisca”e por aí vai. Afinal, é o novo play do Chimaira, aquela banda que começou fazendo new metal imitando o Korn, ficou mais pesada quando o new metal morreu, virou metalcore, lançou um disco de thrash metal quando era isso que estava em voga e, agora, deve seguir a atual tendência do momento. Mas provando que nem sempre a água do rio corre na mesma velocidade, a banda surpreendeu e lançou seu disco mais pesado, lento e denso! “The Infection” começa com “The Venom Inside”, que tem uma bela intro, com dedilhados e guitarras dobradas à Iron Maiden. Mas ao invés de explodir aquele riff “abre-rodinha”, o que entra é um riffão lento, pesadíssimo, de fazer Tony Iommi morrer de inveja, tamanha densidade! As guitarras são o grande destaque do play, pois é riff atrás de riff, sem descanso. Prestem atenção no riff do meio de “The Disapearring Sun”: Hetfield ficaria orgulhoso! O vocalista Mark Hunter parou com aquelas falas desesperadas tipo “I’m so alone” e se limitou a gritar. Tá cavernoso e mete medo em criancinha! E dá-lhe breakdown! Praticamente todas as músicas possuem um! Ver a faceta “queremos mostrar o quão pesados conseguimos ser” do Chimaira é muito legal, porque mostra que a atual tendência é ser “mauzão”. Isso, claro, levando em consideração que a banda, apesar de boa, SEMPRE segue as modinhas do momento no rock.


É isso aí! Muito em breve a Parte 2 sai do forno! Teremos Slayer, Kiss, Killswitch Engage, Suicidal Tendencies, Alice In Chains, Claustrofobia, Heaven & Hell, Massacration...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ENTREVISTA: Darci (Plebe Bar)

Ele é talvez a pessoa mais importante da cena indaiatubana dos últimos 3 anos por comandar o Plebe Bar, que é praticamente o “templo” do rock e da alternatividade na cidade. O Darci (ou Darca, como os amigos mais antigos os chamam) não inovou ao abrir um “bar de rock” em Indaiatuba, mas, devido à longevidade “atrás do balcão” e, principalmente, por ter permitido que mais 600 bandas tocassem no Plebe (recorde absoluto), não há como negar sua importância na cena. O que tem de banda local que estreou no Plebe não é brincadeira! Quem mais cederia este espaço? E as bandas gringas e renomadas da cena nacional que dificilmente tocariam na cidade se não fosse o bar e os contatos dele? Certo, é muita pagação de pau, mas, ao ler a entrevista a seguir, feita por e-mail, vocês entenderão muita coisa e, certamente, assim como eu, passarão a admirar bastante o cara. Tudo que ele escreveu (e foi muito mesmo, deu 14 páginas no Word!) está aí, na íntegra, sem cortes ou edições significativas! É grande, pode parecer cansativo, mas é muito, mas muito enriquecedor também! Let’s get it on!

Darci, vamos começar com seu envolvimento com o Rock. Gostaria que você contasse um pouco de sua história, como começou a curtir som, quando formou suas primeiras bandas e o que mais quer que tenha acontecido em sua vida que teve o rock como trilha sonora de fundo.

Darci Antonio Montanari, esse é meu nome completo. Nossa! Olha vou tentar resumir e não ser prolixo. Posso te adiantar que não consigo imaginar minha vida sem rock. Pra mim é quase como uma religião em que eu sou um daqueles beatos incansáveis. Essa “doença” me pegou precocemente: com 10 anos de idade eu já achava o máximo as bandas como Scorpions, AC/DC, Ozzy, Iron Maiden, que tocaram no Rock in Rio. Putz, isso foi há 24 anos. Mas considero a minha primeira fitinha comprada, Who Made Who do AC/DC, em 1987 como meu primeiro passo autônomo em direção ao rock. Não sei explicar de onde veio, acho que era o “Espírito do Tempo”. Naquela época os cigarros tinham propaganda livre na TV e os da Hollywood sempre me chamaram atenção, pelos esportes radicais que eram o tema das campanhas, mas principalmente pela música de fundo que era sempre feita por bandas como Whitesnake, Survivor e Heart. Enfim Hard Rock! E eram elas que realçavam a mensagem: “liberdade + ousadia = Hollywood ou o Sucesso” (risos). (Segue um link pra quem quiser conferir no You Tube algumas propagandas da época). O mais engraçado é que eu nunca fumei Hollywood, mas o rock ficou. Fora isso, vários filmes tinham o rock como trilha sonora, então foi dessa forma, através da TV que o rock chegou até mim. Aliás, só assim mesmo, pois na minha família, lá em Águas de S. Pedro e São Pedro, quem ouvia rádio, ouvia AM, e é só música sertaneja ou trilha sonora de novela (que, diga-se de passagem, teve Scorpions, Led Zeppelin entre outras como trilha sonora). Muito bem, isto posto, eis que comecei a trocar idéia com gente que tinha a mesma afinidade musical que eu – isso que é realmente massa: o menor município do Brasil, com mil e poucos habitantes na época em que não existia Internet, tinha já uma galera que curtia rock - e de repente fui apresentado a bandas como Slayer, Dorsal, Metallica, Bathory, Korzus, Onslaught, Necrosis, Angel Dust, English Dogs, Witchfinder General, Cirith Ungol, Ratos de Porão, Attomica, Mutilator, Sepultura, Possessed, Suicidal Tendencies, Assassin, Tysondog. Virei “balançador de cabeça” e fã do Comando Metal, programa de rádio apresentado pelo Walcir Chalas, dono da Woodstock Discos, no Anhangabaú (em Sampa). Pra quem quiser conhecer um pouco mais sobre o cara e a importância dele no cenário metal Aqui vai o link do blog dele (inclusive com muita coisa boa pra download): http://walcirchalas.blogspot.com/ . Só pra que se tenha uma idéia, o programa ia ao ar aos domingos pela 89 FM, que na época era mesmo “A RÁDIO ROCK”, e eu tenho uma fita K7 com o ...And Justice For All que rolou na íntegra antes de chegar às lojas. Meu, hoje não tem uma emoção como essa! A fitinha ta gasta pra caramba de tanto que eu ouvi e, mesmo com problemas de sintonia, tá muito boa a gravação! Pra mim um registro que não tem preço!

A minha pirmeira banda foi a Skória mesmo, mas disso eu falo depois, porque antes da banda (ou de conseguir membros pra uma banda naquela cidade e naquela época...rs) a gente teve uma rádio pirata, em 1990. A gente punha no ar aos finais de semana e quando dava na telha durante a semana também: a Rádio Motta (o nome era uma referência ao nosso “Teiadão”, em Piracicaba: a Clínica de Repouso Dr. Cesário Motta...rs). Tinha até uma vinheta com um trecho da música do Adoniran Barbosa: “A louca chegou”. Essa rádio funcionou esporadicamente durante uns 8 anos mais ou menos e sempre rolando rock, punk e metal. Aí aparecia imitador de Silvio Santos, Gil Gomes... Era muito divertido e tinha uma relativa audiência! Aliás, a galera da cidade e os turistas (Águas de S. Pedro vive do Turismo e no carnaval a cidade chega a ter até 10 vezes mais pessoas) aderiram tanto, que no carnaval de 1995, a gente lançou uma camiseta da Rádio e vendemos em torno de 40 peças, o que, considerando o tamanho da cidade, foi um sucesso absoluto (rs).

Depois da Rádio veio a Skória. Paralelo à banda (1999 a 2000), coordenei um grupo cultural chamado ATUARTE (formado pelos integrantes da banda e amigos que freqüentavam o nosso espaço de ensaio, inclusive o Daniel que hoje lidera a banda piracicabana de Psychobilly Rinha), que com o apoio da Prefeitura de Águas de São Pedro, conquistamos uma pista de Skate na cidade e realizamos alguns fests por lá, em parceira com a extinta UBRP (União de Bandas de Rock de Piracicaba). Publicamos também um fanzine com edição única com o mesmo nome do grupo.

Em 2000 me mudei pra Indaiatuba e aí não pude continuar no grupo que decidiu acabar por ali mesmo. Nesse ano fiz alguns testes pra vocal da extinta banda Insulto (por onde passaram o China do Adrede, o Bastos do Insure Now e Indecents etc.), mas não deu certo.

Em 2001 criei a Distro Futum Records, distribuindo muito material underground. Basicamente punk, hardcore, crossover, grind e “agregados e aderentes, etc e tal”. Vendendo e trocando CDS nos shows e também pela internet. Através da Futum Records, firmei importantes parcerias com selos e distribuidoras do gênero no Brasil como a No Fashion HC Recs (do Sérgio, vocal da Scum Noise), Terrotten Records (Renan, da banda Gritos de Alerta), Usina de Sangue (Fábio do Valle, do Sick Terror), Pecúlio Discos (Boka-RDP), Bucho Discos (André-ROT), o que ajudou muito na divulgação do Skória e até do Kranio. Além de propiciar um lançamento em CD prensado com a discografia da banda DISARM (Hardcore Crust - Santa Barbara D’Oeste-SP). Também pelos contatos firmados entre a Futum Records e os selos, principalmente o Usina de Sangue, consegui agregar ao Fest Punkólatras bandas de peso do underground como Calibre 12, Agrotóxico, Armagedon, Scum Noise, Social Chaos, World Burns to Death (Texas – USA) e ainda trazer para Indaiatuba o Riistetyt (um ícone do cultuado punk hardcore Finlandês), para Sumaré a banda francesa Cochebomba e para Sorocaba uma banda belga chamada Licit, entre outros. Ainda pela Futum, atuei na produção da banda Indecents antes de você entrar (N. do R. ele se referiu a este que cuida deste zine), levando a banda a Piracicaba para gravar seu primeiro CD-R, “I Hate This World”, numa parceria com o Estudio Apache, também distribuindo o material e agitando shows.

Em 2002 conquistei um espaço aos domingos na Summer FM (rádio comunitária de Indaiatuba), onde produzi e apresentei o programa “Pá do Rock”, com 2 horas de rock pesado, do hard ao grindcore, sempre divulgando eventos e bandas underground na cidade e na região, com muito CD-R rolando e com uma participação bastante ativa de ouvintes. Me lembro que era uma loucura, pois eu ensaiava à tarde com a Skória, em Águas de São Pedro, e, mal terminava o ensaio, eu e minha esposa saíamos no maior gás pra chegar em Indaiatuba (cerca de 120 km de distância) em tempo para pegar o material e apresentar o programa. Me lembro também que estava negociando um único patrocínio pro programa com o Júlio, do extinto Taco de Ouro (bar onde rolavam bandas e que era muito freqüentado pela rockeirada) e até ia rolar, mas o bar foi vendido devido a problemas com a vizinhança por barulho. Depois de alguns meses baixou a Anatel e a Rádio parou de funcionar, terminando com o programa também.

Em 2003 entrei na Kranio, em paralelo com a Skória, que era minha prioridade, e a Futum Records. No fim daquele ano acabamos com a Skória e então a Kranio tornou-se minha única banda até 2005, quando tive que abandonar o barco, pouco antes da banda entrar em estúdio para a gravação do CD-R “Últimos Dias” (que ironia do destino, não?).

Enfim, ficando somente com a Futum Records, entre 2005 e 2006 organizei alguns eventos como a Maratona do Rock em Piracicaba, em parceria com o Daniel (Rinha). Esse fest contou com 11 bandas, incluindo Medo da Noite e Kranio, de Indaiatuba. Atuei na produção de estrada da banda Medo da Noite até meados de 2006, quando iniciaram um trabalho junto a Wanday Produções.

Em 2007 participei de uma banda de Stoner Rock, que não vingou, e, bem recentemente, em 2009, montei um projeto sem pretensão alguma a não ser extravasar o stress, tocando um pouco de hardcore e rock paulera sem rótulo, que já acabou também por sinal.

De março de 2006 até hoje estou com o Plebe Bar.



Você é psicólogo e isso deve te dar uma visão bem peculiar das pessoas. Como dono de um bar de rock, que vê e convive com as pessoas mais díspares, como você enxerga o público roqueiro hoje em dia, em comparação com o passado.

Bom, Léo, depois de um certo tempo convivendo basicamente só com gente do rock, fica tudo muito natural e, pra falar a verdade, alguns preconceitos meus foram quebrados por essa convivência. Eu acredito que no geral mesmo pessoas são pessoas, não importa a preferência musical ou estilo de vida, mas claro que há características e hábitos próprios de cada contexto. Nessa coisa de comparação, posso falar daquilo que vivi da segunda metade dos anos 80 até hoje e, o que percebi, é que a escassez de material, a ausência de uma mídia que desse acesso rápido a informações e, principalmente, o contexto sócio-econômico-político-religioso fazia com que o pessoal enfrentasse tantas barreiras pra poder ser roqueiro naquela época que tornavam as pessoas muito mais engajadas, devotadas mesmo e até radicais (o que fazia muito sentido na época, pois ou você era um ”militante”, ou um mais um desencorajador). Naquela época, recém saídos de um regime de 20 anos de Ditadura Militar, onde predominou o medo e incentivou-se a ignorância e o índice de analfabetismo era um dos maiores do globo terrestre, nós vivíamos uma sociedade carregada de puritanismos, dogmas religiosos e muita hipocrisia. Ninguém se lembrava mais o que tinha de tão interessante na democracia, ou melhor, não se sabia como lidar com ela.

Num cenário desse, ser roqueiro implicava ostentar um visual que realmente chocava a grande massa conservadora, chamava muito a atenção da polícia (que ainda tinha aquele ranço de que cabeludo ou gente jovem de roupa esquisita era “comunista comedor de criancinha”) e gerava conflitos, pois naquela época metal tretava na porrada com punk (que no começo, em São Paulo, tretavam entre si, ou seja, os punks de Sampa tretavam com os punks do ABC) e ambos com os skinheads. Então não era tão fácil andar de visual, a pé, de metrô ou de busão, sozinho ou em grupo em São Paulo e também em algumas cidades do interior.

Havia ainda pouco acesso a material das bandas que jorravam aos montes no exterior. Isso era muito limitador, estávamos sempre um passo atrás do que rolava lá fora no primeiro mundo, onde as coisas aconteciam. Só chegava aqui aquilo que alguns heróicos selos resolviam lançar e os “top ten” que chegavam pelas majors da época. Fora isso, só play importado que custava mais do que um salário inteiro. A divulgação era feita boca a boca, ou em raros shows ou ainda nos famosos “sons de salão”, onde algum doido alugava um bailão, ou teatro ou centro comunitário, levava um “3 em 1” e ficava rolando fita e vinil com a galera batendo cabeça que nem nos shows. Havia alguma mídia impressa que ajudava bastante (zines, revistas), mas, mesmo assim não dava conta de tudo que acontecia lá fora e, de certa, forma aqui também.

Resumindo, ser roqueiro não era tomar banho, passar shampoo e condicionador, vestir uma camisa de banda e ir pro shopping se encontrar com a galera. Era sim ostentar uma ideologia mesmo, enfrentar os pais, a família toda, que discriminava o “parente roqueiro”, a sociedade em geral, que via a gente com maus olhos, a polícia, os outros roqueiros que eram de “ideologias adversárias” por assim dizer.

Me lembro que quando eu era moleque e andava pelas ruas de Piracicaba fazia questão de andar por perto das poucas lojas de música da cidade só pra ver se encontrava alguém que curtia som e se possível fazer amizade. A gente que se sentia tão à margem da sociedade precisava muito desse “reforço” próprio do contato com iguais, senão a gente acabava se sentindo o mais errado dos seres da terra. Hoje, a coisa mais fácil do mundo é achar gente nas ruas com “visual”. Se você não achar na rua, acha na Internet aos montes.

Sinceramente, fico feliz que muito daquilo se foi, que roqueiro não seja mais tão mal visto num local como um shopping center e seja tão aceito que ali torna-se um ponto de encontro; que hoje tem tanto roqueiro no mundo que as tias não podem mais falar mal dos filhos das outras porque os filhos delas também curtem rock, ou então fazem tanta caca, que seria melhor se fosse roqueiro; que a polícia seja indiferente no que se refere ao visual; que o acesso às bandas, biografias, discografias, fotos, vídeos, reportagens, entrevistas se tornou praticamente ilimitado em termos quantitativos; que as tretas deram lugar a amizade; que as bandas gringas tenham vindo muito mais constantemente pra fazer shows e tours no Brasil; que bandas nacionais tenham tanto respeito lá fora e principalmente aqui dentro; que haja espaço pra que as pessoas possam se reunir, curtir um show e se sentir à vontade.

Por outro lado, acho que a rebeldia de antes se foi, perdeu sentido e um certo vazio ficou. Haja vista a fase nostálgica que o metal vive hoje, seja pelo som “oitentista” que muitas bandas novas estão fazendo, pela “volta dos que não foram” das bandas daquela época, seja pelo visual que voltou, quase 30 anos depois. E parece que isso não se aplica somente ao metal não e nem somente ao Brasil.

Além disso, o contexto influi diretamente, assim como nos anos 80. Se hoje faz mais de 20 anos desde que saímos da Ditadura e voltamos à democracia, não sem antes termos uma eleição decidida por políticos na maioria corruptos, uma primeira eleição direta onde o presidente (bem ou mal) escolhido pelo povo foi derrubado pela mídia e depois disso passaram-se 12 anos até elegermos um candidato de esquerda que teve de se “endireitar” pra poder ser eleito e permanecer no poder por 8 anos. A igreja católica perdeu muito terreno pra igrejas que não vendem lotes no céu, mas sim sucesso material na terra com as bênçãos do seu deus. A AIDS surgiu e cresceu assustadoramente e a sociedade teve que tratar de sexo mais abertamente. O acesso e o consumo de drogas cresceram muito e as overdoses já não assustam mais como antes matando bem menos. A Internet chegou e revolucionou o mundo das comunicações, pra não dizer o mundo em geral. Eletrodomésticos novos trouxeram muito mais conforto. O acesso a instrumentos musicais tornou-se amplo e praticamente irrestrito. Isso sem contar que muito roqueiro de hoje é filho do roqueiro dos anos 70 e 80, ou seja, já nasceu num ambiente familiar próprio para ser o que é.

Enfim, o mundo tornou-se de certa forma muito mais “amigável” para o roqueiro também. Se antes era um problema social, agora é um consumidor potencial. Porém, a lógica vigente trata tão bem da individualidade das pessoas hoje, que acaba incentivando o individualismo, criando, por exemplo, os “roqueiros de condomínio”, que usam camiseta de banda, tem um cabelo diferentão, todas as discografias das bandas preferidas no PC, é craque no Guitar Hero, tem um instrumento e um headphone pra tirar uns sons das bandas preferidas, mas não se relaciona, não se interessa e nem acha que precisa ir a shows underground, pois ele já conhece as melhores bandas do mundo, então “pra que ouvir banda iniciante ou que vai tocar covers ou mesmo som próprio todo parecido com esta ou aquela banda”.

Outro estereótipo muito mais comum hoje, mas que já vinha desde os hippies, é o roqueiro-músico-nóia. Infelizmente esse tem aos montes e sempre muito exposto. O cara é inteligente, é gente boa pra caramba, toca ou canta muito bem, mas não vai ter uma vida de rock star por conta das drogas. Quando alguém pergunta por que ele não se firma nessa ou naquela banda ele tem respostas na ponta da língua, mas nunca é porque ele prefere chapar o globo a ir fazer aula ou ensaiar. Pra ele basta saber que é bom e a galera da turminha reconhecer seu talento. Ponto. Vale mais uma curtição com a galera que uma vida de músico com todas as frustrações e conquistas que lhe são próprias.

Outro ponto comum entre o roqueiro do passado e o da atualidade é o conservadorismo, por mais contraditório que isso possa parecer. O roqueiro que vive a loucura, a quebra de regras e a liberdade, desfiando as instituições quando adolescente, que ouve e/ou toca músicas cheias de blasfêmias e/ou críticas ácidas à igreja, é o mesmo que acaba, por exemplo, se casando no civil e na igreja, diante de juízes e pastores e/ou padres, padrinhos e tudo o mais que é próprio das instituições “casamento” e “família”, ainda que sob uma trilha sonora diferente, convidados com camisa de banda e cabelo comprido ou moicano. Ainda assim, conserva-se a mesma tradição que traz inúmeras implicações, regras e papéis definidos pela mesma sociedade que ele tanto criticara e procurava viver à margem.

Bom, eu poderia falar mais e mais sobre o assunto, mas deixa pra outra ocasião porque estou na 2ª pergunta e já deve estar cansativo ler tudo isso. Está para além de uma pretensão criar aqui um tratado definitivo sobre o assunto, mas acho que já levantei alguns pontos principais.


Você foi apresentado à cena de Indaiatuba quando tocava com o Skória, de Águas de São Pedro! Conte um pouco da história do Skória! Parece que houve uma tentativa de reformulação dela aqui em Indaiá...

A Skória foi uma banda de crossover montada em 97/98, da reunião de amigos e que tocava muitos covers, na maioria de bandas punks (Ramones, Garotos Podres etc.) como tantas outras bandas já o fizeram e fazem até hoje. Quando a rapaziada começou a pegar certa intimidade com seus instrumentos, a coisa foi tomando forma e aí começaram a surgir as primeiras músicas.

Em 2000 saiu o primeiro e único CD-R “Só para Loucos”. Com o material na mão, saímos na correria pra divulgar mandando pra resenhas e na internet também. Na época tinha alguns sites gringos pra divulgar bandas, como o MP3.com o IUMA, Sonico.com, entre outros. O CD-R foi muito bem recebido em todas as revistas e zines, inclusive Rock Brigade, Valhalla e Metal Head. A banda tocou em diversas cidades do nosso estado e também no RJ, tendo uma boa aceitação do público.

Tivemos o privilégio de tocar em shows e fests com algumas bandas das quais éramos fãs, como Sociedade Armada, Gangrena Gasosa, Subcut, Agrotóxico, Calibre 12, DZK etc. Fizemos também muitos amigos e firmamos parcerias com muitas bandas, as quais sempre que podíamos divulgamos por onde passamos. Participamos de alguns festivais, inclusive o “On The Rocks” aqui em Indaiatuba, fest do Rony Viana, no Indaiatuba Clube, que rendeu uma entrevista no programa de mesmo nome que o Rony apresentava na Educadora FM na época. Essa foi a primeira vez que tocamos aqui e foi muito legal, pois a galera veio em peso. Trouxemos um busão cheio de Águas de São Pedro para esse evento. E o povo agitou pra caramba.

Saímos em 2 coletaneas, a beneficente Noise For Deaf (do Nelson da banda New Your Against Belzebu) e Expresso HC (do Alex da banda Protesto Suburbano). Em ambas com 1 música do CD-R. Nos dois casos isso serviu como importante divulgação para a banda que foi muito elogiada por quem ouviu os CDs. Aos poucos a parceria do meu selo/distro Futum Records com outros selos do hardcore foi ganhando forças e isso ajudou a abrir possibilidade do lançamento em cooperativa do material novo em CD prensado, que já era em parte, apresentado em nossos shows e elogiado em comparação com o material presente no CD-R.

Entre 2002 e 2003 as coisas se complicaram, pois eu morava aqui em Indaiatuba e tinha que viajar todo fim de semana pra Águas de São Pedro pra ensaiar, o que não era nada barato e, como eu tinha de arcar com os custos sozinho, os ensaios passaram a ser quinzenais e, com isso, o material novo ia demorando cada vez mais pra ficar pronto. Houve também problemas com shows que os demais membros da banda não compareciam, o que dificultou a continuidade dos trabalhos. Com a mudança do baixista para Goiás, as atividades foram suspensas e depois de meses de hesitação em testar um membro substituto, solicitei aos demais integrantes uma aprovação de texto de encerramento das atividades e assim a banda acabou. Enfim, a banda teve excelente repercussão aqui e fora do país, rendendo convite pra tocar no Canadá e mais um tanto de outras coisas que ficaram sem conclusão, pois foi na época já em que o fim era posto, porém velado.

Há ainda um material em vídeo, registrado em duas apresentações na cidade de Capivari e uma em Sumaré, que compilei em parceria com a Criar (do Fábio, que era da Shock TV), mas que não foi lançado, tendo parte disponível no You Tube.

Realmente, Leo, houve uma tentativa minha em juntar pessoas para uma espécie de continuidade da proposta da Skória, a princípio aproveitando aquilo que já havia dado certo e aquilo que foi testado e aprovado, só que ficou inacabado, já com idéias novas para um seguimento mais amadurecido, inclusive com a intenção de um novo nome, mas somente quando realmente se consolidasse uma formação, com material pronto e com repertório de show afiadíssimo, o que obviamente não chegou a acontecer, na maior parte dos casos por concluir-se que não havia afinidade com o estilo. De toda forma, foi uma interação muito legal com velhos parceiros e novos amigos. Creio que todos crescemos com a experiência e foi muito divertido enquanto durou. Seguem alguns links para quem quiser conferir um pouco da banda:

- Versão de “Born to Be Wild” (Steppenwolf) – Festival em Capivari (2001)

- Locus Pocus (Material que não foi lançado) - Fest em Sumaré com Kranio, 3º Mundo e Cochebomba da França (2003)

- Myspace com a proposta da volta da banda

- Entrevista comigo no site Heavy Meatal Brasil

Se alguém se interessar, achei um blog em que o maluco colocou Download do CD-R “Só para Loucos” na íntegra



Do que as letras do Skória falavam? Pela sua formação e gosto pela leitura (que eu sei que você tem) imagino que eram bem engajadas...

Olha, são vários temas intrincados.

Nas músicas do “Só para loucos”, as letras são mais engajadas e a intenção era provocar o ouvinte/leitor a refletir sobre “O Controle” instituído, porém não naquela velha e gasta fórmula: “a igreja quer dinheiro”, “a mídia manipula” e “o governo é corrupto”, porque eu já não agüentava mais esse panfletarismo ingênuo que só chove no molhado e não chega a lugar algum, soando até hipócrita quando saído da boca de alguns. Aliás, pra mim hoje isso soa mais alienante do que crítico. A intenção era mostrar as entrelinhas, as intenções por detrás de alguns fatos aparentemente inofensivos. Em alguns casos, como na música “Escolha de Existir”, a coisa é mais direta e até mais simples, porém não menos realista e crua. Essa música é um chamado pra pessoa acordar e valorizar o fato de que pode morrer agora, ou daqui a 10 minutos, e não há como prever ou controlar isso, mas pode escolher viver de verdade, buscando ser um espírito livre, ao invés de viver sendo conformista e cheio de autopiedade, assumindo a responsabilidade por suas escolhas, ao invés de culpar os outros pelos resultados de sua conduta apática.

No material que não foi lançado, há recursos de escrita e jogos de palavras, semiótica e mais um monte de coisas que não havia no CD-R. Já os temas são mais auto-críticos e propõem uma reflexão nesse sentido, buscando encontrar o que foi incorporado pelo “controle” aos nossos valores, conduta e hábitos.

Poderia falar bastante sobre cada música, mas acho importante cada um ouvir e tirar suas próprias conclusões daquilo que perceber. Esse CD-R tem várias referências, desde a capa (cujo logo foi criado pelo baterista), o nome do CD, alguns trechos de letras e algumas vinhetas e arremates de músicas entre outras coisas.



E como foi aquele período que você tocou guitarra no Kranio? Foi sua última investida como músico no cenário musical mesmo ou ainda tem algo por vir?

Essa foi uma experiência muito legal. Foram alguns anos de muita dedicação, ensaios, shows e amizades que se consolidaram. Sem falar que tocar hardcore com um baterista que sabe fazer o legítimo d-beat era um sonho que se realizou.

No início era uma investida à parte do Skória. Os ensaios eram do tipo 35 ou 40 músicas em 2 ou 3 horas e eu era mais um amigo que tentava acompanhar o esquema dos caras do que um integrante ativo e tals. Mas, com o fim do Skória, a Kranio passou a ser a minha única banda e aí a dedicação passou a 110%, a ponto de fazer das tripas coração pra que nenhum ensaio deixasse de acontecer e que nenhum show confirmado deixasse de ser cumprido, doesse a quem doesse, mesmo com mudanças de formação, mesmo com perda de integrantes nesse processo. E foi assim que se fixou a formação Marcão (bateria-voz) Tiago (guitarra) Fórfe (baixo) e eu na outra guitarra.

Foi a primeira vez que fiz um site para uma banda e foi o único site oficial da Kranio, até que depois que eu saí, eles me pediram pra tirar do ar.

Em dois anos tocamos em muitos lugares e várias vezes em alguns bares com o Underground, de Sorocaba. Tocamos com muitas bandas respeitadas e algumas das quais éramos fãs, como na primeira vez que o Kranio tocou com Sociedade Armada, Cólera, Riistetyt (Finlândia), Licit (Bélgica), Cochebomba (França), Agrotóxico, Social Chaos, Scum Noise, Armagedon, PPA, entre outros.

A agenda da banda bombava e ensaiávamos duas vezes por semana, com 3 horas para repertório de show e 3 horas para trabalhar em material novo, que compôs o CD-R “Últimos Dias”.

Infelizmente o tempo estava cada vez mais escasso para mim e, assim, anunciei minha decisão de sair, pouco tempo antes da Kranio entrar em estúdio. Decidi que não seria justo gravar o material e esperar sair com meu nome e a minha foto pra depois cair fora. Meu último show foi aqui em Indaiatuba, no extinto Hangar XVIII, com Cólera e bandas amigas. Apesar da tristeza, minha saída foi recebida numa boa e restou a amizade. Lembro-me que o Marcão me disse: “Seu lugar vai continuar lá. Não vamos chamar outro guitarrista. Se um dia der certo você volta.”

Mesmo depois de minha saída, continuei durante algum tempo, naquilo que me era possível, conseguindo e intermediando algumas datas como o show com Ratos de Porão, no Underground Bar, um show com Lobotomia e Calibre 12, em Campinas, um show com Cólera, em Boituva, e uma participação em São Paulo numa comemoração do Orkut do Cólera, com várias bandas tocando, inclusive um Clash Cover do Redson e uma palestra/bate-papo dos 25 anos da banda.

Olha, Léo, não posso dizer que foi a última investida por não saber o que o futuro me reserva, porém tem sido difícil pra encontrar: 1- tempo pra me dedicar seriamente a uma banda; 2- integrantes com afinidades musicais e com pelo menos o mesmo nível de dedicação.



O que é ser Punk para você? Ainda vê algum sentido neste movimento?

Poderia falar pra você que ser Punk é não ser mais um fantoche na mão do governo, é chocar a sociedade com um visual agressivo, música simples, crua e barulhenta, protestar contra tudo que há de injusto, criticar a igreja, o estado, todas as instituições e a classe dominante, não trabalhar pra não alimentar a máquina do sistema, não usar nem consumir produtos estadunidenses pra não alimentar o imperialismo e todos os ouros clichês dos gêneros “diga não” e “faça você mesmo”, mas essa coisa de “ser Punk” acho que é vestir um estereótipo e, aliás, um dos mais visados. Em geral as pessoas “ideologizam” demais pra ser rock ou escracham demais pra ser ideológico. De um jeito ou de outro, é muito fácil cair em falácias e, no final das contas, sobrar somente a contradição e um papel de “bobo” da turma.

De outra forma, acho muito importante para o crescimento e evolução, tanto do ponto de vista do indivíduo como do ponto de vista da sociedade, que existam pessoas engajadas em causas e ideologias, pois isso reflete alguma liberdade de escolha e de manifestação artística, cultural, política, científica, enfim, humana, e essa liberdade não está definida ou delimitada em leis, estatutos, tábuas dos mandamentos, e sim (des)construída, dentro de cada um de nós. Obviamente, o contexto sócio-econômico-político acaba sim, delimitando conseqüências para nossas manifestações, mas não as manifestações em si, visto que nos EUA, por exemplo, existe a pena de morte em alguns estados, porém isso não impede que adolescentes estadunidenses comprem armas e entrem em escolas matando quem quer que lhes dê na telha, por exemplo. Além disso, a criminalidade lá não é baixa e o índice de estupros é alarmante, apesar das duras leis, de uma aparente força policial adequada e do judiciário desvinculado do estado.

Trocando em miúdos, não acredito em “ser Punk”, mas sim em “estar Punk”. Em termos de visual, não dá pra esquecer que aqui é “o país do carnaval” e que a parada gay movimenta muito mais gente do que qualquer passeata ou protesto punk. Entendo como um estado de espírito e não uma maçaroca de regras comportamentais rígidas, doutrinas e dogmas a serem seguidos e respeitados de acordo com uma cartilha. Nem tão pouco um amontoado de comportamentos bizarramente autodestrutivos e nem mesmo uma conjugação dos dois extremos, como por exemplo, ser vegan e usar drogas. Aliás pra mim, não há nada que aliene e controle um ser humano tanto quanto o vício em drogas. Nem a igreja, a mídia ou o capital conseguem realizar essa tarefa tão bem.

Eu acredito que há sentido no Punk enquanto houver uma sociedade, porém esse sentido se movimenta assim como a sociedade. Não dá pra ser ingênuo ou hipócrita e negar as contradições que são inerentes ao ser humano, mas dá sim para fazer da contradição um ponto de partida. É muito fácil criticar as instituições, mas não dá pra esquecer que nascemos e vivemos no capitalismo e que tudo o que existe e que nos dá algum prazer ou sentido na vida foi produzido “no, pelo e para” o capitalismo em última instância. Por exemplo: Se na China há mão-de-obra semi-escrava nas fábricas de componentes eletrônicos, talvez graças a essa infeliz exploração exista tecnologia pra comprar um CD importado de hardcore finlandês pela internet ou baixar um vídeo, ou uma discografia, e gravar num DVD, ou ainda falar pelo MSN com um amigo de outro país, ou quem sabe encomendar aquele coturno da marca Doctor Martens... É dessa contradição que se pode partir. Já basta de sentar em cima do rabo e falar do rabo alheio! Crítica por crítica, até os corruptos e sonegadores de impostos sabem criticar, “puxando a sardinha pro seu lado”, sentados em suas poltronas de couro ou em frente ao televisor de última geração, assistindo as novidades do Jornal Nacional.

Da parte que mais me interessa, que é a música, acho que hoje, depois de trinta e poucos anos, o Punk Rock e seus derivados apresentam muito sentido e contribuíram, e ainda contribuem, demais com o rock em geral. Graças ao Punk, o rock se desburocratizou, retomou vigorosamente sua essência mais instintiva, visceral, e explodiu barreiras impostas por tabus. Tornou público o impublicável, botou o dedo na ferida narcísica de muitos “almofadinhas” e ainda rendeu muita grana pras gravadoras.



Quais suas bandas e estilos favoritos, dentro e fora do rock?

Taí mais uma pergunta que exigiria uma resposta longa demais.

Atualmente, dentro do Rock: AC/DC, Motorhead, Slayer, Pantera, Metallica, Down, Ramones, Black Sabbath, Grand Magus, Entombed, Rage Against the Machine, Atomic Bitchwax, Death, Zeke, Ratos de Porão, Scum Noise, Joe Satriani, Sepultura, English Dogs, Machine Head, D.R.I., Rush, Jethro Tull, Soundgarden, Morbid Angel, Fu Manchu, Corrosion Of Conformity, Napalm Death, Suicidal Tendencies, Fear Factory, Steppenwolf, Captain Beyond, Kyuss, Raul Seixas etc.

Fora do Rock: Falcão, Tião Carreiro e Pardinho, Cacique e Pajé, Tonico e Tinoco, Paco de Lucia, MPB4, Chico Buarque, Toquinho & Vinicius, Baden Powel, Billy Cobham, entre outros.

Estilos: Blues, Hardcore, Moda de Viola, Progressivo, Punk, Thrash Metal, Crossover e Stoner são meus estilos preferidos atualmente, mas eu ouço muito mais coisa.


Falemos agora do Plebe Bar, que praticamente herdou todo o status antigo Blackout, apesar de ainda existir o Pirata’s Bar. É meio que um “sonho” ter um bar de rock com espaço para as bandas mostrar seu som?

Bem, eu não conheci o Blackout e não faço a mínima idéia de como era ou do que seria esse tal status, mas espero que seja alguma coisa boa, porque herdar problemas e dívidas não parece ser legal (N. do R.: O tal status da pergunta é de ser “o” bar de rock da cidade). Acho que ter um bar de rock é um “sonho” pra muita gente, assim como pra mim. A realidade, porém, é muito mais ampla e complexa do que aquilo que se imagina. Mesmo eu já tendo vivenciado muita coisa no rock, há fatos que somente no contexto de bar que se pode viver. Basta lembrar que a maior parte dos bares de rock duram pouco tempo. Eu costumo usar o seguinte comparativo de um amigo meu: “rock no Brasil é como andar de CG 125 na contra-mão.” Mesmo assim, o espaço está aí e já passando a marca das 600 bandas, algumas tendo tocado diversas vezes, em pouco mais de 3 anos de funcionamento.


Percebe-se que a proposta do Plebe hoje em dia é pouco diferente do que era no início, em 2005. Mesmo assim, quem vai lá sente a mesma “essência”. Quais eram suas intenções quando o bar abriu e no que elas mudaram hoje em dia? É o fator “grana” que ainda dita as regras para a manutenção do bar?

Não resta dúvida que a proposta mudou sem perder a essência, mas isso foi um processo natural, onde aquilo que era dos outros se foi com eles e aquilo que era comum e que também era meu ficou.

A intenção principal era firmar a cidade de Indaiatuba no cenário rock de São Paulo, trazendo bandas para atender uma necessidade do público da cidade, gerando oportunidades para as bandas locais, possibilitando intercâmbios, incentivando a formação de novas bandas e, principalmente, instituindo um local que pertença à galera que curte rock.

Essas intenções continuam sendo as mesmas da proposta atual, com o acréscimo de que há uma preocupação em possibilitar uma interação maior com o público, e entre as diversidades culturais também, visto os eventos e festas organizados por clientes.

Olha, Leo, sobre o “fator grana”, eu descobri pela experiência que ninguém consegue agradar a todos, ninguém se interessa se você tem contas a pagar, ninguém é tão altruísta que trabalhe de graça e não existe uma pessoa no mundo registrado no cartório com o nome “ninguém”, mas se você se afundar em dívidas bancando a diversão alheia, muita gente vai ser seu “amigo” até a diversão acabar. E mais: se sua irmã for gostosa e você a convencer a dar pra todo mundo, vai ter fila de neguinho na porta da sua casa e na saída vão te pedir um isqueiro emprestado e ainda tirar um sarro da tua cara, mas o pior seria ouvir comentários do tipo “ela nem era tão gostosa assim, deviam me pagar o dinheiro do busão pra vir aqui.”

Então, sem dinheiro não se come, bebe, dorme, vive. Pode ser que uns não paguem por isso tudo, mas com certeza alguém paga por esses. Eu particularmente trabalho muito, e com prazer, e acredito que mereço receber pelo meu trabalho, embora a prioridade quando se tem uma empresa é mantê-la funcionando, o que invariavelmente exige muitos sacrifícios que nem todo mundo agüenta, seja de trabalho, seja de grana.



O Plebe foi montado em parceria com a galera que formava o Kranio, mas houveram desentendimentos e hoje, apenas você e seu sogro sobraram no comando. Sem polêmicas e “fofoquismos”, há alguma coisa que você gostaria de esclarecer pra galera que freqüenta o lugar sobre este assunto?

O fato é que éramos 4 sócios, sendo a Fabiana, Eu, o falecido Marcão e o Tiago. O Sr. Nelson, sempre que pode, está lá dando uma força desde o começo do Plebe, porém o faz voluntariamente. Ele curte dar essa força e ainda jogar um xadrez ou uma dama com a galera.

Essa coisa de desentendimentos é inevitável quando tem 4 pessoas no comando de qualquer empresa. O lance é que em algum momento você cede à vontade de um, no outro momento os demais cedem à sua vontade, mas consenso é pouco freqüente e, como dizia Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”. Essa tensão é desgastante e, juntando outras responsabilidades e outras prioridades na vida de cada um, pronto: o inevitável acontece.
Infelizmente chegou o momento em que cada qual decidiu deixar o bar, com as suas respectivas razões, ficando para mim a decisão de continuar sozinho ou de buscar alternativa.

Da minha parte não há ressentimentos e, desde o momento em que fui surpreendido com a notícia da saída dos dois últimos, respeitei e acatei a decisão tomada. O que era devido foi pago a quem de direito e ponto.

Foi assim que eu apreendi esse episódio em Dezembro de 2006 e é assim que eu o entendo hoje, em setembro de 2009 (N. do R.: época da entrevista).


Estou sabendo que as baladas de som eletrônico que rolam de quinta-feira estão bombando. Sabendo que seu negócio é rock mesmo e que sempre viveu no underground, no meio das bandas, como você se sente com esse “sucesso do inimigo” no seu território?

Hahahhha. Muito legal! Então, bombou sim algumas quintas e foi muito legal ter um pessoal novo, dando uma dinâmica diferente ao Plebe. O pessoal habitué teve diversas reações e o pessoal que chegava pros eventos também teve diversas reações, mas tudo muito positivo, apesar dos bochichos e reclamações (inevitáveis, diga-se de passagem).
Olha, se o sucesso foi “do inimigo” eu não sei, mas sei que foi esse sucesso que pagou as contas, quando vários shows bacanas com ótimas bandas de rock não receberam o prestígio do público necessário para tanto. Assim, os eventos Chic House foram uma oportunidade para um pessoal muito gente boa e criativo ter espaço e confirmar que merece continuidade do projeto. Por outro lado, acho que valeu pras pessoas se depararem com seus preconceitos, tanto de um lado quanto de outro, e alguns aprenderem algo com isso, ou reafirmarem aquilo que já pensavam. Concluindo, foi muito positivo.


O Plebe ainda está à venda? Como anda este assunto? Eu sinto uma enorme torcida contra, porque todos (eu incluso) têm medo de que você saia e percamos mais um espaço de rock na cidade...

Não. Este assunto está encerrado. O único motivo pra venda do bar era o fato de que a minha esposa trabalhava e praticamente morava em Sampa e, comigo no bar 16h por dia, a gente não se via mais. Quando ela chegava no fim de semana eu estava no Bar. Quando eu chegava do trabalho ela estava acordando e eu indo dormir. Quando eu acordava pra trabalhar ela ia dormir. Enfim, estava insuportável e por isso a decisão de venda do bar.

Agora, ela voltou pra cá e não há mais motivo pra vender.

Realmente há torcidas e “retorcidas” com esse assunto. Mas nem todos com o mesmo pensamento seu, Leo.

Sobre essa preocupação do pessoal em perder o espaço do Plebe, só me resta evocar Antoine De Saint-Exupery e o seu clichê mais realista tirado do livro “O Pequeno Príncipe”: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." E isto tem que ser uma via de duas mãos.



Quais as bandas que fizeram os shows mais fodas que você já recebeu no Plebe? Qual te deu mais “orgulho”?

Olha, Leo, pra mim os shows mais fodas foram aqueles em que as bandas chegaram com humildade, fizeram a montagem dos equipos, passagem de som rápida e tranquila e tocaram com toda energia do mundo, transmitindo carisma e empolgação. Orgulho dá a cada banda que chega e vai embora feliz, agradecendo com a sinceridade nos olhos, independente de estilo ou de status.


O que o futuro reserva para o Plebe? Tem algo planejado a curto ou mesmo a longo prazo de novidades?

Tudo o que posso dizer é que há grandes surpresas por vir.


É isso aí! Obrigado pela entrevista, Darci! O espaço é seu!

Eu é que agradeço pela oportunidade, o prazer e a honra de contribuir em algo (assim espero) com o IRZ.

Todo trabalho no sentido de promover o Rock é sempre importante nessa luta diária, que nem todos percebem ou valorizam. Porém este espaço aqui em especial é pioneiro, feito ao mesmo tempo por paixão e por gente que entende do assunto e de suma relevância, inclusive indo de encontro à proposta do Plebe, para firmar esta cidade no cenário Rock paulista e, quiçá, brasileiro.

Longa Vida ao Indaiá Rock Zine!!!


SKÓRIA:

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Satisfações

Fala, galera, blz?

Quem acompanha(va) o IRZ já percebeu que estou sem postar algo novo faz um tempão.

Pois é, comecei a fazer facul de novo e isso está me tomando um tempão, a ponto de eu não conseguir sentar aqui pra escrever pro IRZ.

Entretanto, isso não é o fim do blog! Estou com matérias mto boas engatilhadas, faltando apenas uma edição para postar aqui. Então, quem ainda tiver paciência pra aguardar não ficará decepcionado! Eu garanto!

É isso!

Conto com a compreensão de vcs, pois não quero que os posts sejam "meia-boca"! Nossa cena não merece!

Obrigado pelo apoio!

Leo