sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ghost, uma moda passageira? (por Wellington Pena)

Pela primeira vez vou abrir espaço para uma colaboração externa aqui no blog! Isso nunca foi fechado e todos são livres pra me enviar textos sobre Rock e, principalmente, sobre o Rock Indaiatubano! Mas tem que ter o mínimo de noção, hein?! Sem ataques pessoais e a outros estilos, porque o bang aqui é humilde, mas é sério (rs)! Com vocês, Wellington Pena, o famoso "Peninha":

Ultimamente, milhares de bandas surgem no mundo musical. Existem bandas que conseguem seu espaço e tem outras que morrem antes mesmo de sair do papel! Mas o que dizer de uma banda que logo no seu primeiro álbum já cativou boa parte dos músicos do primeiro escalão do Metal e tem tocado nos maiores festivais do mundo?

Estamos falando do fenômeno Ghost, banda de origem sueca que, depois do lançamento do álbum "Opus Eponymous", em janeiro de 2011, só tem viso seu nome e reputação crescerem em um ritmo intenso! 

Ninguém sabe ao certo quem são os músicos que formam o conjunto. Existem boatos que o vocal, Papa Emeritus, é, na verdade, Tobias Forge, ex-Crashdïet (banda de Hard Rock) e atual Repugnant (horda de Death Metal “old skull”). Os outros músicos, simplesmente chamados de “Nameless Ghouls”, diz-se por aí, são ex-membros do Candlemass e de outras bandas, mas nada foi confirmado até o momento.

O visual da banda é um dos fatores que elevam a banda: os músicos só aparecem em público com maquiagem pesada e figurinos diferenciados. Os instrumentistas usam roupas de monges que cobrem até o rosto e o vocal, mais provocante, traja a roupa do mais alto posto da igreja católica, se caracterizando automaticamente como um “papa satânico”.

E o que dizer do álbum “Opus Eponymous”? Se você espera uma banda de Black Metal suja e crua pode tirar o cavalinho da chuva, pois o que se ouve aqui é um Heavy/Doom muito simples e limpo, que lembra muito Blue Öyster Cult e Mercyful Fate. O vocal não grita e não distorce a voz, simplesmente cantando de forma muito limpa. Os guitarristas despejam riffs e solos no maior estilo Cult. Já o tecladista é um dos principais instrumentistas, moldando um clima satiricamente religioso, bem no estilo do Enigma. As letras são muito bem elaboradas e totalmente satânicas, justificando o status de “sinistra” ao Ghost.

Apenas com nove faixas e 35 minutos de duração, o disco move contra a agressividade e rapidez que muitas bandas prezam hoje em dia, mas traz ao mesmo tempo uma sonoridade muito rica em técnicas instrumentais e vocais. Começando com uma introdução bem “missa”, a primeira faixa, “Deus Culpa”, já deixa você instigado ao que vai vir pela frente. Logo no começo da segunda faixa, “Con Clavi Con Dio”, você já percebe que se trata de uma banda satânica, pois ela simplesmente começa com um “LUCIFERRRRR”. O final desse som deixa um ar bem mórbido ao vivo. Depois passamos pelo hit, “Ritual”, seguida da ótima “Elizabeth” (que tem uma pegada mais pesada). Destaque para a faixa “Death Knell”, com uma introdução bem ao estilo Castlevania (N. do E.: sim, o jogo de vídeo game!), com chuva de fundo, seguido de uma bateria simples, um riff  bem elaborado e uma letra sensacional (uma das melhores letras de músicas que já vi em minha vida). O play fecha com a fantástica faixa instrumental “Genesis”, perfeita.

Assim que o álbum foi lançado, a revista sueca “Sweden Rock Magazine” o elegeu como um dos melhores da década, ao lado de plays de nomes consagrados, como Iron Maiden, por exemplo. Muitos músicos de renome têm sido hipnotizados pela “onda Ghost”, como Phil Anselmo, James Hetfield, Duff McKagan e Tomi Joutsen (vocal do Amorphis).
 
Como explicar esse fenômeno chamado “Ghost”? Será por que suas músicas são muito grudentas e bem trabalhadas em um momento em que o Metal só pensa em velocidade e técnicas? Difícil responder, mas temos que admitir que uma nova estrela do Metal acaba de surgir! Só resta torcer para que um dia eles aportem no Brasil para um show memorável! (Texto: Wellington Pena / Edição: Leo)

Para saber mais do Ghost:

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Resenha: Hunger e Medo da Noite, no Plebe Bar

Acontecimentos diversos me permitiram presenciar uma das celebrações que já está se tornando tradicional na cena de Indaiatuba! Todos os anos, a galera que chegou do Paraná com muito orgulho e humildade para fazer Rock em Indaiatuba se reúne em um show para os amigos! Pelo menos desde 2002 essa dobradinha acontece, de um jeito ou de outro, pulando uns anos e outros não, com a diferença que a cada apresentação eles estão melhores! E foi nesse clima que estive sábado, dia 9/12/11, no Plebe Bar, para conferir mais uma festa com Hunger e Medo da Noite, com open-bar de caipirinha e uma breja na faixa!

O Hunger abriu o show. “Ano passado deixamos o Medo abrir, eles demoraram muito e a gente tocou muito tarde. Então fomos mais espertos esse ano, chegamos 17h30 no bar para montar as coisas”, me explicou rindo sarcasticamente o Sr. Mauro Izalbert, frontman e headmaster do Hunger, bem na frente do William, o “cabeça” do Medo da Noite, que só ria concordando, mostrando o clima de camaradagem que imperava!

Do primeiro show que eu vi do Hunger, em 2002, na extinta A Casa, até esse, pude acompanhar a trajetória do Mauro, um verdadeiro obstinado, persistente e disciplinado batalhador de seu “sonho de vencer com sua música”. E como o Hunger evoluiu desde então! Pra começar, a formação dos caras é a melhor que a banda já teve em todos os sentidos, sem desmerecer o grande Romão, que já assumiu as baquetas do grupo! Mauro, que toca e compõe com a inteligência de poucos, tem na sua retaguarda o batera Israel, que, se não é um ás do instrumento, mostra que pegada e paixão devem fazer parte do arsenal de qualquer baterista que se preze. Nesse show, com um bumbo incrivelmente regulado, pude perceber que a consistência de sua pegada vem do trabalho quase que contínuo de seus dois pés! Parecia uma metralhadora impiedosa, intercalando rajadas de tiros absurdamente encaixadas com as palhetadas da banda.

Ao seu lado esquerdo, Mauro tem a companhia do velho parceiro de guerra Thiago Palmeiras. Eu mesmo já toquei com ele e sei da precisão que ele tem nos dedinhos gordinhos (rs)! Sem contar a postura totalmente original com que ele levanta o braço do braço pra banguear!

Na outra ponta, jogando muito, quer dizer, tocando muito, mas muito mesmo, Mauro conta com a fritadeira insana do Thiago “Kronos”! Como esse moleque tá tocando! Virtuoses da guitarra têm aos montes em Indaiatuba, mas com a precisão desse maluco vai demorar pra aparecer um! Cada fraseado e cada lick na velocidade da luz que ele entregou nesse show...

Outro capítulo à parte é a timbragem! Se todas as bandas da cidade tivessem o cuidado que o Hunger tem em timbrar os instrumentos, ninguém pegava nossa cena! Sim, para isso a banda conta com auxílio de rodies profissionais, que além de deixar tudo pronto pra eles só chegarem e tocar, soltam samplers que completam as músicas no momento certo! Oh inveja! hahaha

Finalmente falando do show (acredite, essa longa introdução era necessária para fazer vocês entrarem no clima, ou pelo menos tentar isso...rs), eles detonaram! Abriram com “Peace Is In Pieces”, primeira grande música composta por Mauro, que já foi alterada diversas vezes por conta da própria evolução musical da banda, e que agora está mais mortal ainda, com sua letra que relata a guerra por petróleo no Oriente Médio. Mais Thrash Metal impossível!

O show seguiu e, pela primeira vez em muito tempo, uma banda de Metal me pegou pelo estômago! Sim, porque mesmo revendo muitos conhecidos pelo Plebe, e com o UFC 140 passando na TV, me senti atraído pela presença e pegada do Hunger. A última banda de Metal que me fez isso foi o Metallica, no show de 2010 (a resenha está mais abaixo, aqui no blog)! Já hipnoticamente grudado na banda, Mauro avisou que aquela seria a última vez que aquele som seria cantado em Português, admitindo tranquilamente que a versão em nossa língua foi exclusivamente feita para o Festival de Rock. E dá-lhe “Contradizendo Um Paradoxo”! Apesar de eu ainda ficar em dúvida quanto a esse título, essa música é fodassa! Aliás, já digo que é “Clássica”!

O Hunger mostrou que é possível evoluir tocando Thrash Metal! Todos os sons do grupo estão com uma roupagem bem moderna, com leves flertes com o Metalcore (eu disse “leves flertes”, ok?) e um peso absurdo. Mauro soube muito bem pegar o Thrash oitentista, misturar com o peso dos Anos 90 e temperar com a melodia e os pedais duplos da primeira década do século! Inteligência musical é pra poucos!

A grande surpresa do show foi a execução de “Walk”, clássico arrasa-quarteirão do Pantera, com Mauro cantando sem a guitarra em punho e com Thiago honrando exemplarmente Dimebag no solo! Nos backing vocals do refrão, este que vos escreve teve a honra de soltar os demônios com seus gritos desafinados (Valeu!)! Tomara que esse som ainda fique por um bom tempo no repertório do grupo!

“O que é que vou tocar agora?"

Terminada a explosão atômica do Hunger, o próprio William, vocalista, guitarrista e compositor do Medo da Noite, que não parou de banguear um segundo no show dos asseclas do Sr. Mauro Izalbert, virou pra mim e falou: “O que é que eu vou tocar agora depois disso?” Confesso que concordei com ele na hora – seria muito difícil o Medo da Noite conseguir manter a galera acesa depois do estrago (no bom sentido) feito pelo Hunger!

Mas, como o próprio Wesley, baterista do grupo postou no Facebook esta semana, eles são os que eles fazem e têm isso nas veias! Isso que ele fala é o Rock ‘n Roll na mais pura forma de expressão, simples e singelo, de All Star no pé e jeans rasgado, embebedado pelas brejas baratas dividas com os camaradas no rolê e fedido com os cigarros fumados acesos quase que um no outro, e com uma energia de fazer você se sentir um adolescente outra vez, capaz de passar por cima de tudo e de todos!

Quando o Medo começou seu show, percebi que todas as músicas de seu primeiro disco, o humilde e bem gravado “O Silêncio Que Destrói” já são clássicos do Rock Indaiatubano! Todo mundo cantava junto e amava! A mistura de Renato Russo e Cazuza com Kurt Cobain e Laney Stanley das letras de William, sem falar na sua interpretação catártica, sempre perdido dentro de si, sentindo a própria poesia, com uma cara de louco que parece não ver nada, mas absolutamente consciente de tudo a sua volta, conquistou todos os rockers de Indaiatuba, independente se o cara é do Metal, do HC, do Punk ou qualquer outro estilo de Rock. Tava todo mundo cantando junto! Confesso que eu senti até vergonha por não lembrar de algumas letras!

Como foi lindo ver e ouvir “Flores de Plástico”, “A Procura de Heróis”, “O Silêncio Que Destrói” e, principalmente, “Dia de Morrer”! Como essas músicas são marcantes! O próprio Mauro falou depois da apresentação que não existe um poeta igual o William! Como vou discordar, né?

Outro ponto alto do show foram as músicas novas! Eu, afastado que estou da cena, não conhecia nenhuma, mas todo mundo já tinha na ponta da língua as letras, além dos “na-na-nas” nos riffs! Que lindo foi ver isso! As músicas seguem a mesma linha de composição das registradas no debut do grupo, mas demonstram grande evolução na construção das melodias e arranjos (gravem logo isso aí, galera! Demorou!)!

Weslão na bateria continua muito atrevido, sempre preenchendo os espaços com os pedais duplos e muitas viradas, criando uma característica bem peculiar e interessante no som da banda, já que as levadas são quase sempre baseadas na simplicidade do Grunge e do Punk Rock! O novo baixista (esqueci o nome agora, desculpem, eu não estava tão sóbrio quando fui apresentado a ele no dia), mostra muita segurança nas linhas de seu instrumento, além de uma paixão muito grande por estar tocando aqueles sons! Seus backing vocals casam muito bem com a voz de William, parecendo que tem um verdadeiro coro de vozes por trás, quando na verdade há apenas ele!

Ao final, todo mundo queria mais e pediu um bis. William atendeu, mas, ao fim do som, a galera pediu mais e ameaçou, “não vamos te deixar descer do palco”. Sem opção e alegando “vontade de beber” (mais?), ele não viu outra saída a não ser quebrar as cordas da própria guitarra, para desapontamento dos presentes. Mas isso nem foi tão desolador, já que todo mundo já estava em êxtase e satisfeito por ver dois shows fodassos e uma amizade entre bandas que já teve muitos “baixos”, mas agora só permanece nos “altos”, como demonstrado pelo abraço fraternal entre os dos “cabeças” no fim dos show, dizendo: “Mais um ano tocando juntos!”

Pega nóis!

Links relacionados:

- Hunger
- Medo da Noite
- Plebe Bar

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

R.I.P. Fabinho (Quatro Sete/Wizard Head)

Infelizmente retomo os trabalhos do IRZ com uma nota absurdamente triste!

Sexta-feira passada, dia 9/12/11, Indaiatuba perdeu outro ícone da cena local: Fábio Fernandes Garcia, o Fabinho, baixista do Quatro Sete, faleceu após uma cirurgia no Hospital Santa Ignês.

A causa da morte ainda não foi divulgada, mas suspeita-se que o músico tenha contraído alguma infecção (alguns dizem até que pode ter sido no SWU), pois havia dado entrada no hospital uma semana antes, com diarréia e vômitos. Como seu quadro de saúde não melhorava significativamente, os médicos decidiram realizar uma cirurgia exploratória, porém, um dia após o procedimento, que não revelou nada e só serviu para coletar material para análise, Fabinho sofreu morte cerebral, seguida de falência múltipla dos órgãos.

Fabinho estava com 36 anos e havia acabado de finalizar suas partes na gravação do primeiro disco do Quatro Sete ao lado do irmão Diego (vocal), do guitarrista Lucas (ex-Midway) e do Maurão, batera do T-Zero. Todas as músicas, riffs, letras e melodias foram compostas pelo Fabinho (galera do 47, que tal lançar esse CD em um festival tributo ao Fabinho, com jams da galera dos anos 90? Dou uma força na divulgação na imprensa local se precisar!)!

A empolgação dele por estar de volta à cena era imensa e, quem cruzou com ele na final do Festival de Rock este ano, só viu sorrisos, alegria e energia! Além de se classificar para a final do Festival pela primeira vez, o Quatro Sete fez seu primeiro show “completo” no mesmo dia da final (23/10), com o Insure Now, no Plebe, a convite meu! Ao fim de sua apresentação, absurdamente feliz, ele me agradeceu imensamente pelo convite, como se eu fosse o organizador do Woodstock, apesar do role ter sido bem humilde! Sinto-me orgulhoso por isso, mas isso não diminui em nada a dor por sua perda! Parecia que, após gravar seu primeiro disco, tocar pela primeira vez na final do Festival de Rock e depois fazer seu primeiro show no “bar de rock” da cidade, Fabinho dava sua missão no rock por cumprida!

Em seu velório, 99% da cena rocker de Indaiatuba dos anos 90 estava presente. Uma maneira irônica e, ao mesmo tempo, triste de conseguir reunir tantos talentos da nossa cidade. Somente um cara como o Fabinho era capaz disso! Polêmico e de opiniões fortes, vira e mexe ele soltava uma na internet que deixava o povo de cabelo em pé (rs). Porém, seu lado camarada e brincalhão era o que imperava! Quem conhecia, sabe bem do que estou falando!

A galera “nova” da cena não tem noção de quem era ou quem foi o Fabinho para a cena da cidade. Para estes, seguem estas duas informações, fornecidas por ninguém mais, ninguém menos, que o Boi Slayer (este todo mundo conhece, né?). Isso vai dar a noção da importância desse camarada pra nossa cena:

- o Fabinho foi o primeiro vocalista do Wizard Head, a primeira banda de Heavy Metal de Indaiatuba que se tem registro, em 1990;

- ele também foi o cara que apresentou o Metallica pro Boi (Essa me arrepiou!!!).

Fabinho deixa dois filhos pequenos (2 e 5 anos), a esposa Márcia (meus sentimentos), e um enorme vazio no Rock Indaiatubano!

Links relacionados:

- Quatro Sete
- Wizard Head

segunda-feira, 8 de março de 2010

ENTREVISTA: Lauro Nightrealm (Incinerad)

“Não toco em banda por que sou músico, toco por atitude!”

Ele capitaneia a única banda de Death Metal da cidade, o Incinerad! Divide muitas opiniões na cena, mas, como poderá ser comprovado na entrevista abaixo, não muda sua autenticidade um milímetro sequer e, mesmo com pouco tempo na cena, já tocou (e toca) em bandas de renome no Underground paulista, como Bestial Atrocity e Queiron, além do Incinerad! No próximo 16 de abril, com suas duas bandas, ele vai abrir o show para a lenda do Black Metal Marduk (SUE), acrescentando mais um “open act” de peso em seu currículo, que já conta com Obituary (EUA), Belphegor (AUS), Master (EUA) e Grave (SUE). Pode parecer pouco, mas não conheço muitos outros bangers na cidade que já tenham um portfólio desses. Com vocês, Lauro Nightrealm!

Lauro, você, apesar de ser bem conhecido na cena local, é relativamente novo. Poderia nos contar um pouco de você e de sua trajetória com bandas desde que começou tocar? Também cite suas principais influências.

Bom, acho que o grande fator que contribuiu para isso é simplesmente a minha paixão pelo Metal Nacional. No início eu buscava mais discos e K7s de bandas nacionais e ficava horas escutando. A partir de então comecei a ir em shows na região e fora do Estado, querendo ver pessoalmente a atuação destas bandas que eu ficava escutando em casa. A partir daí acabei criando um laço de amizade (eu e as bandas) e me correspondendo com elas. Ao contrário do que alguns dizem, isso não é “lamber o saco” da banda, e sim uma verdadeira atitude de apoio e respeito ao trabalho que elas fazem. Foi então que montei minha primeira banda, entre 2002 e 2003, chamada Arphelyon. Era uma banda de Heavy Metal, que inicialmente tocava alguns covers como Dio, Iron Maiden, Helloween, Gammaray etc. e também com algumas composições de nossa autoria, para acarretar em um trabalho mais profissional. Esta banda durou um ano e depois se extinguiu por diferenças musicais de todos os integrantes. Meses depois resolvemos voltar com a mesma, porém, tendo o mesmo fim ainda mais prematuro. Minhas principais influências são: Black Metal, Death Metal, Thrash Metal, Heavy Metal e Musica Clássica.

Como foi montado o Incinerad? Aliás, o que quer dizer (não só em termos de tradução) e o que simboliza o nome da banda?

Em 2006, eu estava à procura de verdadeiros guerreiros para iniciar um projeto com uma banda de Death/Black Metal. Foi quando, em uma roda de amigos, soltei tal assunto e o Dijalma David, que estava nesta me mesma roda, se prontificou a tocar baixo. Como o Dijalma era guitarrista, pensei comigo e disse a ele para não trocar sua guitarra num baixo, o que não adiantou. No dia seguinte, ele foi pegar seu baixo, reforçando ainda mais a idealização do projeto. Bem, agora faltava uma peça de suma importância para a conclusão definitiva de uma suposta banda: um baterista! Ao conversar com um grande irmão de anos chamado Flávio (atual baixista do Incinerad), acompanhado de uma amiga (cujo nome não me lembro agora), comentei que estava à procura de um batera. A mesma me disse que tinha um amigo que estudava com ela que tocava bateria e era um grande apreciador da musica extrema, chamado Emanuel. Peguei o telefone dele com essa garota, liguei na seqüência e marcamos de nos falar pessoalmente no dia seguinte. Ao conhecê-lo, Emanuel me convidou em ir até sua casa para vê-lo tocar. Fiquei completamente surpreendido com a tamanha velocidade e precisão que ele tinha, típico e verdadeiro baterista de Death Metal, além de ver que ele era bem novo, pois tinha somente 16 anos na época, e já tinha grandes influências musicais no seguimento extremo como Krisiun, Cannibal Corpse, Carcass etc. Já com todas as peças completas, iniciamos nossos primeiros ensaios. Como não tínhamos local próprio para ensaiar, duas grandes pessoas que nos deram um imenso suporte. Um foi o Tiago e outro grande irmão, que já não está mais entre nós, o Marcão, ambos do Kranio. Começamos a ensaiar na casa do Tiago e foi lá que saiu nossas primeiras composições e nos vimos como uma banda de verdade, pois vi que tínhamos um grande potencial. Agora só faltava um nome para a banda. “Mas qual?” Queríamos um nome forte e que simbolizasse o caos, a destruição e derivados. Como tínhamos uma cabeça um tanto que conservadora em relação ao Metal, queríamos que a chama do antigo Metal queimasse os novos tempos, desmistificasse a raiz e desfragmentasse esta essência. Com isso surgiu o nome “INCINERAD” que significa (obviamente) incinerado, queimado, carbonizado etc. A simbologia para nós é essa, não só o nome, mas sim a banda como um todo, pois ser uma banda de verdade não é apenas empunhar um instrumento e ser um pseudo-filósofo. Ser uma banda de verdade é ter atitude. E isso nós temos!!!

Agora que você entrou no Queiron, sua agenda deve ter ficado apertada. Como fica pro Incinerad agora? Qual das bandas é sua prioridade e quais são os planos futuros pro Incinerad?


Isso dá pra ser maleável. Pois ensaio em Capivari com o Queiron, aos sábados, e aos domingos, com o Incinerad. Até então, minha atuação no Queiron não está prejudicando o Incinerad, pois todos nós somos amigos já há algum tempo e nos entendemos bem neste ponto. Então, não digo que tenho uma prioridade por tal banda, mas sim uma prioridade por necessidade. Nós do Incinerad pretendemos estar estourando tímpanos e proliferando o terror sonoro, como toda banda extrema deve ser!

Como foi sua passagem pelo Bestial Atrocity? O Baron é um cara absolutamente conhecido e respeitado na cena Death do Brasil...

Sim, o Baron Von é uma pessoa bem influente no cenário nacional. Não por ser o líder do Bestial Atrocity, mas sim por ser um grande guerreiro que luta por nosso cenário metálico. Eu o conheci em umas de minhas peregrinações pelos eventos mundo afora. Temos a mesma paixão pelo Metal e por nosso Underground! Foi então que, no final de 2008, ele me convidou para fazer um teste no Bestial Atrocity. Fui encarregado de tirar cinco músicas para iniciar o teste, mas fui no dia da avaliação com 15 (N. do R.: Quinze!!! Caralho!!!) sons tirados. Neste mesmo dia fui oficializado como membro efetivo da banda. Ser um Bestial Atrocity foi algo muito satisfatório para mim, pois conquistei mais aliados e grandes amizades, além de poder tocar com o Grave, da Suécia. Foi uma experiência extraordinária tocar com o Baron e o Bestial Atrocity!

Por que a banda acabou logo depois que você entrou?

Quando eu entrei, a banda já estava passando por algumas turbulências. Alguns integrantes estavam com problemas pessoais, o que fez que a banda entrasse em um estágio de “desempolgação”. Fizemos alguns bons shows e criamos algumas músicas, mas isso não segurou firmemente o desânimo. Sendo assim, todos chegaram em um consenso que o melhor a se fazer seria imortalizar o nome “Bestial Atrocity” para ser memorizado com grandes glórias e batalhas.

Como é integrar o Queiron, uma banda renomada do cenário nacional e muito conhecida?

Conheço o Queiron desde que ingressei no Metal Extremo. Conheci seus discos e os conheci pessoalmente em algum show por aí, não me lembro onde agora. Sempre que podia, eu ia prestigiar eles (como faço com várias bandas) em algum som e trocávamos idéias tomando cerveja no bar. Em agosto de 2009, o Marcelo Grous (líder da banda) me ligou relatando o que estava acontecendo com eles, necessariamente com o baixista, o Tiago Furlan, que já tinha os comunicado que não poderia mais seguir na batalha, e foi aí que o Marcelo me convidou a fazer um teste. Eles estavam vendo mais algumas pessoas para o teste e, somente no meu terceiro ensaio com a banda, todos os integrantes foram unânimes em me efetivar como membro definitivo, por ser o que mais se destacou e por possuir a mesma cabeça que todos, de acordo com eles.

Você originalmente é guitarrista. Como foi sua adaptação para o baixo, no Queiron? Ainda dá aquela travada na mão da palheta ou foi tranqüilo?

Te digo que pensava que fosse mais complicado. Demorei aí uns dois meses para me acostumar totalmente com um baixo, pois toco guitarra desde meus 15 anos. Como o Queiron possui um som mais técnico e riffs bem rápidos, isso dificultou um pouco no inicio, mas agora estou 100% adaptado com esse “novo instrumento”, já explorando ele de todas as formas possíveis.

E essas oportunidades de abrir shows de bandas gringas? Como você se sente abrindo shows para bandas que te influenciaram, como o Marduk e o Master agora? Você fica meio “tímido” e com aquele sentimento de “fã babão” quando vê os caras, ou fica de boa?

Me porto normalmente quando nos falamos (rs). Conheço grandes nomes no cenário Extremo mundial e mantemos contato com uma certa freqüência com bandas como Belphegor, Hate, Setherial, Grave, Equinoxio, Enthroned, Severe Torture, o próprio Marduk e várias outras. Recentemente tive a oportunidade de conhecer os integrantes do Master (EUA), uma das bandas de Death Metal mais antigas. Foi um prazer imenso poder conhecê-los pessoalmente, pois são grandes pessoas e verdadeiros amantes do Metal Extremo.

Vamos falar do Death Metal. Eu vejo que o público da cena Death sempre anda com o visual característico do estilo, sempre de preto, com braceletes, couro, coturno, corpse paint etc. Qual a simbologia e a importância disso? Não seria uma “moda” dentro do Rock em geral?

Acredito que não, pois se analisarmos bem, o Death Metal é um estilo que poucos gostam, falando do mundo Rock em geral. É claro que sempre tem os “oba-oba” no círculo, mas 90% deles pára de curtir, muda de estilo e/ou vira cristão. A simbologia de um visual carregado é para exaltar nossa apreciação pelas as artes obscuras que o Metal Extremo proporciona. Por isso que são para poucos e espero que continue assim, para ser bem franco, pois essa nova onda de “Metal Moderno” não está com nada, em meu ponto de vista.

Todo Deathbanger é necessariamente satanista ou anticristo? Você tem alguma religião ou segue alguma coisa nesse lado espiritual?

Esse é um assunto um tanto que delicado. Mas vamos dizer que sim: tenho um lado espiritual um tanto que exótico, trilhado pelos caminhos da mão esquerda.

Disso eu não entendo e gostaria de saber: o Death Metal e o Black Metal são “irmãos” ou são totalmente diferentes? Quais as principais características de cada um?

Sim, o Death Metal e o Black Metal são grandes irmãos! Ambos defendem uma postura contra o cristianismo e vão totalmente contra as morais cristãs. As sonoridades agressivas de ambos os estilos são justamente para exaltar nosso desprezo. O Death Metal relata isso de forma mais catastrófica e caótica. Já o Black Metal é mais na cara, com blasfêmias diretas. Estas são a principais características, mas claro, tem muito mais além disso aí.

Eu percebo que a cena do Metal Extremo, em geral, é uma das mais unidas no Brasil. É verdade isso ou também rola aquela ciumeira e competição típicas dos outros estilos?

Entre os verdadeiros guerreiros nossa irmandade é única e sólida. Formamos a Extrema Aliança. Mas sempre tem aqueles que gostam de falar mais que a boca, por ciúmes ou inveja. Particularmente, eu não dou a mínima para esse tipo de pessoa, pois “a inveja é uma forma berrante de homenagear a superioridade alheia.”

Sou um apreciador da Língua Inglesa e fico muito curioso para saber por que diabos vocês sempre trocam a letra “U” pelo “V” nos nomes das músicas e dos discos? (rs)

No latim arcaico, os cristãos utilizavam o “V” no lugar do “U” nos testamentos bíblicos e sacros da época. Esse tipo de escrita era a mais utilizada por eles. Então, fazer a substituição destas letras, em nosso contexto, é considerado uma sátira, uma blasfêmia aos olhos cristãos.


Outra coisa que eu admiro absurdamente na cena Death Metal é a mulherada! Meu, como tem mulher gata no meio de vocês, hein? Basta olhar o seu perfil no MySpace pra comprovar... (rs)

(Risos) Sim, é verdade. Antigamente não tínhamos muitas dessas lindas mulheres em nosso círculo. Hoje em dia até me espanto como as mulheres estão gostando com extremo fervor das artes relacionadas ao Metal Extremo. Em relação ao meu MySpace, aqueles lindas damas que estão em minha pagina inicial, são pessoas que tenho uma ótima relação e as considero verdadeiras irmãs. Mas confesso que o índice de presença feminina em nosso cenário aumentou bem.

Os timbres de guitarras no Death Metal são bem particulares e distintos. Pra mim o pontapé inicial disso foi o “Eternal Devastation”, do Destruction, que nem Death Metal é... Qual é o equipamento que você usa e qual a regulagem no ampli e no pedal para conseguir a verdadeira distorção Death Metal?

Acho que essa parte de timbre é uma coisa bem particular de cada um. Cada um gosta de um determinado timbre que se adapta melhor às propostas sonoras de cada banda. Eu atualmente uso uma guitarra “Schecter Demon 7FR” de sete cordas, um pedal “Hell Babe”, da Behringer, um pedal “V-Tone”, da Behringer, uma pedaleira “Zoom 505II” para efeitos e ajudar na equalização, um pedal “Noise Supressor”, da Behringer, para tirar saturação, e um pedal Maximazer para masterizar e definir o som de minha guitarra. A regulagem do ampli fica com todos botões no meio, pois o grande segredo está na regulagem nos pedais, onde tenho uma para cada ambiente que vou tocar.

Você estuda ou pratica guitarra hoje em dia? Pergunto isso porque pra tocar Death Metal na velocidade que ele exige devem ser necessários muitos anos de treino...

Para ser bem sincero, e todos que me conhecem sabem bem disso, eu nunca fiz aula de guitarra em minha vida! Fui autodidata neste quesito de guitarra (rs)! Mas sempre fui uma pessoa interessada em aprender algumas técnicas, além de eu amar tocar guitarra. Mas cada um tem sua pegada, seu estilo e sua identidade para tocar. Não sou nenhum músico e nem pretendo ser para falar a verdade. Não toco em banda por que sou músico, toco por atitude!!!

Todo mundo curte alguma banda ou artista que não tem nada a ver com Metal e com o Rock em geral. Quais são as bandas/artistas que você fica com vergonha de admitir que curte? Não vale falar de música clássica! (rs)

(Risos) Com certeza gosto de estilos que não possuem relação com o Metal de certa forma! Além de gostar da Música Clássica, gosto também de alguns Hardcores, Tears For Fears, Michael Jackson, Frank Sinatra, Michael McDonald (1982), Teddy Pendergrass (1977), Howad Shore, música ambiente folclórica Egípcia, Celta, Maia e Grega, música ritualística como Coph Nia, Elend, e Jacula. Não tenho nenhuma vergonha em dizer de gosto de outros estilos musicais. Muito pelo contrário! Esses gêneros citados acima fazem parte de mim também. Mas sei que sou um amante fervoroso do Metal e isso pra mim já basta.

É isso! Obrigado pela entrevista! Gostaria que você deixasse um recado para os leitores do IRZ.

Leo, muito obrigado pelo espaço concedido! Espero que o Indaiá Rock Zine continue sempre em ascensão! Somos poucos, mas sonos unidos, a verdadeira Aliança Extrema!!!

SVPREME SANCTVS METAL HEX




Links relacionados:

- Lauro Nightrealm MySpace
- Incinerad MySpace
- Queiron MySpace
- Bestial Atrocity MySpace

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A festa dos mortos-vivos

Concordo com cada palavra deste texto:

Por Regis Tadeu, colunista do Yahoo! Brasil

Para esta semana, o pessoal do Yahoo!pediu para que eu e meus excepcionais amigos colunistas - Kid Vinil e Andreas Kisser - escrevêssemos sobre o Carnaval. Não tenho a menor ideia de como eles irão se referir a este evento, mas posso adiantar uma coisa a vocês: de minha parte, sinto um amargo gosto de derrota em minha boca, como se fosse um Napoleão tentando abrir uma lata de sardinhas com um garfo de plástico em seu exílio na ilha de Santa Helena, abatido e impotente perante a circunstância que me rodeia.

Durante alguns dias, vou tentar escapar da verdadeira ditadura televisiva imposta pelo Carnaval, mas sei que não vou conseguir. Tenho plena consciência de que serei nocauteado por frases imbecis, proferidas por exércitos de exibicionistas, todos ansiosos por uma suruba que nunca se concretiza. Serei submetido a grotescos espetáculos de alegria plástica, sem vida, provenientes de gente cuja maior qualidade é exibir cirurgias plásticas - algumas invejáveis, outras semelhantes a serviços de borracharia mal feitos -, sem um pingo de autenticidade, sem o menor resquício de emoção sincera.

Não tenho nada contra a exposição de corpos femininos nus - muito pelo contrário! -, desde que eles venham acompanhados de uma aura de sensualidade e beleza. Não há espaço para a ingenuidade em avenidas salpicadas de pessoas mortas por dentro, muito menos para o tesão. O que resta é um festival de repugnância proporcionado pelas emissoras de TV. É duro admitir, mas a burrice parece ter se tornado item de cesta básica. Conseguimos a proeza de profissionalizar a idiotice!

O Carnaval se tornou um evento para os outros. Empresas, fabricantes de cervejas, socialites deformadas pelo excesso de botox a ponto de se parecerem com lagartos, celebridades emergentes de 97ª categoria, playboys babacas, garotas de programas disfarçadas em atriz e modelo... É para essa turba falsamente animada que a festa do Rei Momo (quem?) existe hoje. O tumulto resultante é o espelho fiel do que o Brasil se tornou. Para os turistas estrangeiros, somos alegres bufões, sorridentes mesmo quando sabemos que milhares de crianças morrem como moscas porque não têm o que comer. Na verdade, no fundo da alma, essa cambada de "ex-BBBs da vida real" se comporta como palhaços desdentados, subnutridos de inteligência e bom senso. As pessoas se tornaram prisioneiras da imagem daquilo que se espera delas.

O Carnaval é um retrato cheio de purpurina da realidade que vivemos: tumultuado, confuso, artificial, violento, narcisista, louco - no pior sentido da palavra -, bruto e patético. O problema não é o Carnaval, mas sim o que ele espelha.

Não, não tenho saudade do passado, mas percebo que, em um tempo não muito distante, vivíamos de uma maneira diferente, mais cordial e sincera, mesmo quando nosso espírito mambembe se confrontava com o início de uma nova ordem, que determinava que só a exibição contínua e a qualquer preço seria o caminho para uma "carreira de sucesso".

Por que existe tanta gente disposta a fazer qualquer coisa para ganhar dinheiro e/ou aparecer na TV? A resposta pode estar no fato de que essa imensa massa de imbecis está totalmente desiludida com os benefícios que a aquisição de cultura pode trazer ao espaço vazio que existe entre as suas orelhas. A turba de idiotas prefere o caminho mais fácil, que passa pelo constrangimento de expor suas vergonhas intelectuais e físicas em cadeia nacional.

Como é possível fazer germinar a cultura de um país por meio da massificação? E quando escrevo "cultura", me refiro também à música, um dos principais combustíveis para nossa existência. Como acreditar na musicalidade de um Carnaval em que os samba-enredos são todos iguais, a ponto de você esqucer cada um deles segundos depois de ouvi-los?

Hoje, fazer parte do Carnaval é trabalhar como um macaco de realejo perante uma plateia cheia de zumbis sorridentes. Se essa é a sua noção de "alegria popular", vá fundo. Mas depois não diga que eu não o avisei...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Show: METALLICA – 30/01/2010 – Estádio do Morumbi-SP

Eu vi o melhor show de Metal do mundo (quase) da grade!

“I’m feeling, São Paulo”, disse James Hetfield ao fim de “For Whom The Bell Tolls”. “We just played two songs and I’m already smiling.” Se ele, que faz isso há quase 30 anos já estava assim, imaginem como eu, lá na Pista VIP, a cerca de 15 metros dele, estava nesse momento, após ouvir o clássico matador do disco “Ride The Lightning”. O que vou relatar nesta resenha extrapola qualquer barreira do Jornalismo em si, caindo escancaradamente para um relato puro e apaixonado de um fã que teve uma oportunidade única na vida. Portanto, se você não é fã do Metallica, ou não foi no show, pode até achar o que está escrito aqui exagerado e bobo, mas tenho absoluta certeza que, quem esteve lá no Morumbi dia 30 de janeiro, não vai discordar um milímetro sequer desta “resenha”.

Minha mulher até disse durante a semana que antecedeu o evento que eu estava parecendo uma criança, tamanha ansiedade que estava. E estava mesmo! Não era pra menos, afinal, o Metallica é a banda que eu mais gosto e, até então, só tinha ido naquele show de 1999, no Anhembi, que teve uma produção tosca (se é que dá pra falar que teve alguma produção). Não bastasse isso, a banda ainda estava na pior fase criativa da carreira, após o lançamento do “Garage Inc.”, disco de covers que sucedeu os famigerados “Load/Re-Load”. O que vi lá não foi, de fato, impactante, não tinha “sangue-no-zóio” e não me fez querer ter uma banda de rock! Vi uma banda fria, sem punch, sem feeling, apenas “cumprindo a agenda”. Além disso, na época eu tinha 15 anos e ainda não sabia como aproveitar de fato um show. Mesmo assim, fã é um ser idiota e não deixa de gostar da banda. A paixão dele por ela apenas adormece. Bastou o anúncio dos shows no Brasil, no fim do ano passado, pra essa chama reacender a ponto de provocar um incêndio de proporções romanas!

Claro que eu compraria ingresso pra Pista VIP! Não sou a favor de ver minha banda favorita de longe! Eu compro todos os DVDs deles e assisto infinitas vezes! Não iria ficar vendo de longe! Já basta abrir mão da “briga pra chegar na grade” em shows de outras bandas que não sou tão fã (rs)! Os 300 mangos negativos na minha conta nunca tiveram cada centavo tão bem gasto como nesse show do dia 30!

O Sepultura abriu a noite, às 20h, ainda com sol na cabeça! É inegável a força que a banda ainda tem! Porém, quando apresentaram as músicas do mais recente disco, “A-Lex”, ficava claro que a galera apenas demonstrava respeito e não empolgação por tê-los abrindo a noite. É. Eu ainda sou um órfão do Max Cavalera. De qualquer forma foi muito bom “aquecer” ouvindo sons como “Dead Embryonic Cells”, “Arise” e “Inner Self”. Fato negativo foi apenas o volume baixíssimo que tocaram, o que permitia todos conversarem sem maiores esforços na platéia. Cheguei até pensar que estava acontecendo outro boicote, como em 1999, mas não. Aquilo é o volume de uma banda de abertura mesmo.

Em seguida, os roadies do Metallica começaram os ajustes e, pra minha felicidade, ao primeiro acorde que um deles deu na guitarra do Hetfield, já pensei, “Puta merda, vou sair daqui com meus ouvindo zumbindo”, tamanho volume e pressão sonora que um simples “mizão” da ESP Custom dele dava! Nisso, a acalorada tarde já havia dado lugar a uma noite maravilhosa, de céu limpo, com uma Lua cheia reluzente. Até parar de chover na Capital o Metallica fez nesse dia!

Às 21h30, pontualmente, os refletores do estádio apagaram e os primeiros acordes da “Ecstasy of Gold” soaram nos PÁS, acompanhado de cenas do filme “The Good The Bad & The Ugly” nos telões laterais. Meu coração quase explodiu meu peito essa hora! Totalmente desaconselhada para cardíacos essa introdução! Ao fim dela, Lars entra tomando seu Gatorade no copinho e bate quatro vezes no “China”: “Creeping Death”(Nota do R.: estou arrepiado neste momento em que estou escrevendo isso, só de lembrar disso)!

Pouco antes de começar a cantar, James levanta os dois braços e solta um grito fora do microfone. Estava iniciado o ritual de dominação! Inesquecível também o grito de “São Paulo” no fim da música, assim como ele grita o nome de todas as cidades! Acho que não há outro começo de show tão épico e empolgante quanto esse com “Creeping Death”! Depois disso, sem qualquer demora, Robert Trujillo sobe na plataforma atrás da bateria e começa a bater em seu baixo, já com a distorção no talo, anunciando “For Whom The Bell Tolls”. A essa altura eu já estava brigando com meu corpo para manter meus batimentos cardíacos abaixo de 160 BPM e fazer minhas cordas vocais não se desgastarem! Afinal, ainda tinha muito, mas muito mais Metallica por vir!

Após falar de “paixão por tocar para fãs apaixonados”, Hetfield anuncia a primeira surpresa da noite: “The Four Horsemen”. A essa altura, todo mundo já sabe que o Metallica tem algumas músicas que são fixas no set list, alterando apenas algumas a cada show. “Horsemen” foi tocada de maneira mais lenta, quase na velocidade do disco. Isso pareceu dar mais peso, sem contar que ficou muito mais “gostosa de cantar junto”. A próxima surpresa foi a pesada “Harvester of Sorrow”, do “...And Justice For All”. O groove desse som é coisa de louco e aquela parte antes da última estrofe, em que a música pára e James encara todos antes de retomara a música “no grito”, faz praticamente todos ficarem em silêncio no estádio! Acho que todo mundo gosta dessa parte (rs).

Quando colocaram um violão na plataforma acima da bateria, achei que tocariam “The Unforgiven”, mas, para minha surpresa (mais uma!), James começou “Fade To Black”, minha favorita. Foi difícil não ir às lágrimas no solo do final, cantando “uoô” junto com as guitarras, mas resisti bravamente, apesar de estar com os olhos cheios neste momento ao lembrar disso!

Aqui cabe um parêntese: o Metallica está tocando melhor que nunca! Lars pode estar com uma cara de velho bêbado e acabado, cheio de rugas, mas não perde um tempo e bate forte como poucos em seu kit. Kirk, que tinha fama de ser “grosso” ao vivo, por sempre comer notas nos solos, calou a boca de todos com uma execução perfeita, tranqüila, cheia de feeling e, principalmente, sem nenhum erro, tanto de nota ou de perda de tempo, nos solos e bases. Trujillo sempre foi um baixista fodasso e, só consigo destacar o peso absurdo que seu timbre dá a cada dedada que ele desce sem dó nas cordas. E James, como comentou um cara do meu lado, faz parecer fácil cantar com uma voz potente, limpa e clara, e tocar palhetando sempre baixo numa velocidade absurda! Sem contar que ele ainda consegue conversar com a platéia enquanto faz isso. É realmente para poucos...

Aí chegou a hora da “Sessão Death Magnetic”. “That Was Just Your Life”, “The End Of The Line” e “The Day That Never Comes” foram tocadas em seqüência e a impressão que ficou é que esses sons foram compostos para tocar ao vivo mesmo, já que têm uma força descomunal que o disco de estúdio não consegue atingir. A próxima foi a “necessária” “Sad But True”. Necessária, porque, apesar de já estarmos todos enjoados de ouvir ela por aí, ela tem que estar em qualquer show do Metallica, tamanha a força que carrega em seus poderosos riffs. Sem contar que a pose de fodão do James Hetfield com a ESP Explorer preta e pernas abertas batendo cabeça durante essa música foi a imagem que mais me marcou no show! Aquilo sim que é a personificação do Metal!

“Broken, Beat and Scarred”, dedicada ao público, deu seqüência ao massacre. Os backing vocals “What don’t kill ya make you more strong” muito fodões e esse som mostrou que o Death Magnetic é de fato um disco para tocar ao vivo!

Então tudo se apagou...

Me senti no meio de um filme de guerra em 3D! A pirotecnia utilizada para anteceder “One” é coisa que fazer inveja a qualquer baloeiro de São Paulo ou à comemoração de uma Copa do Mundo! E dá-lhe labaredas de 10 metros de altura que fazia gente lá no fim da pista se “arrepiar ao sentir o calor”. Fora as bombas que estouram cruzando o palco com um estampido ensurdecedor! O que foi aquilo?!?! A música em si só não ficou em segundo plano, porque, como todo mundo sabe, ela é fodona!

O que pode-se dizer de uma banda que pode emendar uma música chamada “Master of Puppets” em outra chamada “One”?!?! Você mal acaba de ter um orgasmo e lá vem mais prazer infinito de novo! Você não respira! Nem percebe que já passou uma hora de show! E que coisa linda aquele solo dobrado no interlúdio! Só não chorei porque eu tava lá dando uma de fodão mesmo (rs)!

Mais uma surpresa: “Blackened”! Cada vez que Hetfield gritava “Fire” no refrão, quatro labaredas de 10 metros de altura subiam aos céus nos esquentando. O cara, além de tudo, é o “Deus do Fogo”! Imagina o poder que ele deve sentir ao hipnotizar 68 mil pessoas em um estádio com sua música e ainda ter labaredas de 10 metros de altura crescendo a cada comando seu! Não é mesmo pra qualquer um...

Depois da cacetada vem a calmaria. James pede que mandemos nossos bons fluidos para Kirk, que, em vez daquele solo estridente, nos premia com um dedilhado lindo, devidamente acompanhado por palminhas! Não há como não se impressionar com a qualidade do som limpo das guitarras deles. Até quem não toca nenhum instrumento podia distinguir tranquilamente a vibração de cada corda da guitarra do maquiado Hammett (sim, isso mesmo, ele passa lápis no olho. Mania dos tempos do “Load”).

De um “solo” com guitarra limpa fomos para “Nothing Else Matters”, com direito a James cantar sentado numa banqueta. Legal que ele faz a platéia participar em quase todos os refrãos da canção e, quando não faz, pude reparar que ele troca a frase de “and nothing else...” para “no, nothing else matters”. Interessante! No fim da música, após fazer seu solo inundado de feeling, James se ajoelhou no palco, de costas, para iniciar a próxima música. Nesse momento, ao perceber que o cameraman filmava sua mão direita, ele fez uma brincadeira com a palheta (personalizada com o caixão da capa do disco), quebrando todo o clima soturno criado pela balada.



Foi o que precisava para incendiar novamente a platéia para o maior sucesso do grupo, “Enter Sandman”, com direito a fogos de artifício e tudo mais que temos direito!

Chegou a hora do intervalo para o “bis”. Achei que iríamos ficar uns 5 minutos esperando, mas em pouco mais de 2 minutos, eis que eles voltam pulando feito crianças no palco! James avisa que nessa hora eles sempre homenageiam uma banda que os inspirou e que o escolhido naquela noite era o Queen. E dá-lhe a pesada versão de “Stone Cold Crazy”. Cabe ressaltar que James, de um adolescente tímido e inseguro, se tornou num dos frontmen mais comunicativos do mundo! Ele já tinha carisma só de empunhar a guitarra. Falastrão desse jeito então...

Surpresa master da noite: “Motorbreath”! Quando Kirk começou o riff cavalgado, foi difícil conter a emoção de ouvir uma das primeiras músicas Thrash Metal da história! E Lars, mesmo depois de ter tocado por, até então, duas horas, ainda acelerou o final, chegando na velocidade de um som do Slayer! Imaginem isso, caros leitores! Quer mais “sangue-no-zóio” que isso? Ah, você quer? Ok. Então toma: as três palavras mais esperadas da noite foram entoadas:

SEEK AND DESTROY!!!

Com afinação mais baixa e com James comendo (propositalmente) uma parte do riff do início, o show não teria música mais apropriada para encerrar. Oh riff desgracento esse! Não houve como ficar parado na pista. Uns pulavam, outros abriam circle pits, outros berravam! E eu fiquei lá, com cara de pasmo, quando não acreditando que tava vendo aquilo acontecer, bem de perto! Foi, de longe, o melhor show que já assisti na vida! E tá bem longe mesmo do segundo melhor!

O telão gigante que fica atrás do palco é o melhor cenário que uma banda pode ter! Até quem sentou lá na arquibancada, lá longe, na PQP mesmo, viu com detalhes esse show! Até as rugas/cicatrizes causadas pelas queimaduras nas mãos do James em 1992 deu pra ver com detalhes! E os câmeras que ficam lá no meio do palco, não atrapalham nada! Você mal nota os indivíduos! Talvez seja até pela atração magnética dos membros da banda, mas a verdade é que eles sabem filmar o show da melhor maneira possível! Eu até me vi no telão quando um deles focou a platéia! Que orgulho! hehe

Pra finalizar, achei duas frases interessantes que poderiam resumir tudo que escrevi aqui:

“Metallica é Metallica! O resto é resto.” (frase vista no meu MSN no dia seguinte ao show)

“Metallica é bom demais, porque é feito para o moleque espinhudo, inseguro e rancoroso que existe dentro de todos nós.” (André Forastieri, jornalista)

Precisa falar mais alguma coisa? Meus ouvidos ficaram zumbindo até segunda-feira! Que delícia!

Set list:
Creeping Death
For Whom The Bell Tolls
The Four Horsemen
Harvester Of Sorrow
Fade To Black
That Was Just Your Life
The End Of The Line
The Day That Never Comes
Sad But True
Broken, Beat and Scarred
One
Master Of Puppets
Blackened
Nothing Else Matters
Enter Sandman
- - - - - - - -
Stone Cold Crazy
Motorbreath
Seek and Destroy

Galeria de Fotos - cortesia do site Metal Remains

Fotos da matéria: William Bastos (clique nas fotos para abrí-las na resolução original)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

My life story: Randy Blythe (Lamb of God)

Li essa entrevista na edição de dezembro da revista americana Revolver e achei interessante traduzir. Quando eu fiz aquele artigo sobre o fim das revistas de Rock no Brasil, uma das minhas grandes preocupações era justamente não poder saber como e o quê o cara que faz a música que eu curto pensa! Essa entrevista, que faz parte da seção chamada “My life story”, é justamente isso: não tem nada perguntando do disco do Lamb of God, da tour, da gravação etc. Só tem pergunta pessoal, ainda que seja voltada para o universo roqueiro. Nisso eu sei que o cara que berra lá, de fato, tem algo a dizer, que ele não é um tapado e que eu não venero um babaca (vide o lamentável costume de James Hetfield, do Metallica, em caçar ursos). É disso que eu sinto falta. Atualmente temos apenas a Roadie Crew como revista de Rock no Brasil, nem to contando a Rock Brigade, pois a qualidade caiu demais, e ela (a Roadie Crew) INFELIZMENTE é uma revista que escreve para uma massa bovina, com entrevistas superficiais, apenas sobre assuntos que não acrescentam nada na vida de qualquer ser pensante. Claro que há exceções, vide que o excelente redator Antonio Carlos Monteiro hoje integra o cast da revista, mas, em geral, a qualidade do material é fraca. Tudo bem, isso pode ser reflexo da (falta de) cultura do povo brasileiro, que não lê como deveria, mas isso já é assunto pra outro post. Segue o link e a tradução da entrevista. Aproveitem pra ver como uma revista de Rock pode ser muito interessante e legal. É disso que eu to falando!

LINK: Revolver Magazine

Por Dayal Patterson

Onde e quando você nasceu?

Nasci em 21/02/71, em Fort Meade, Maryland. Nós morávamos em uma base militar e meu pai era da aeronáutica. Mas nós não ficamos lá por muito tempo.

De que tipo de família você veio?

Meus pais se separaram quando eu era jovem, mas isso foi uma coisa boa – não teve nenhuma treta por custódia de filhos ou coisa parecida. Eles eram ótimos pais, apenas não estava dando certo juntos. Quando eu estava na quarta série, me mudei para Virginia com meu pai e meus irmãos e nós vivemos lá por alguns anos na fazenda da minha avó. Era realmente muito legal. Meu pai trabalha pra caramba, então eu, junto com minha avó, meio que criamos meus irmãos mais novos.

Você era um bom irmão mais velho?

Eu era super protetor. Eu fazia o máximo para ter certeza que eles faziam o dever de casa e ficassem longe de encrencas. Eu não fui sempre o melhor modelo de irmão, mas minhas intenções eram sempre boas.

Com o que você se parecia quando estava crescendo?

Descobri o mundo do Punk Rock quando estava na sexta série e, antes disso, eu tentava estar na onda de todo mundo. Eu tentava me encaixar em alguns grupos, mas eu era um nerd e minha família não tinha muito dinheiro. Quer dizer, nós não vivíamos num barraco ou coisa parecida, mas certamente não éramos ricos. Crianças podem ser bem cruéis se você não tem as roupas da moda e o que mais seja, porque eles, em sua maioria, foram criados por pais idiotas de “cabeça-fechada”, que os ensinaram a ser “idiotas de cabeça-fechada”. Então, eu tentava andar com todo mundo, exceto pessoas que não era amigáveis comigo. Eu nunca fui muito popular ou algo do tipo, então, quando eu entrei para o Punk Rock, foi tipo “fodam-se todos” e isso era uma maneira de me manter desse jeito.

De que modo você era um nerd?

Cara, eu ainda sou um nerd! Eu ainda jogo RPG (Dungeons & Dragons) e esse é ponto máximo que eu chego nessa! Eu nunca fui de fazer esportes. Eu até pratiquei luta por um tempinho. Mas eu não era aquele cara que jogava futebol americano. Eu era sempre aquele cara que estava lendo um livro. Eu trabalhava em um bar e eu me lembro que o bartender me disse uma vez: “Randy, se na biblioteca vendesse cerveja, nós nunca mais te veríamos.” Eu sempre estava como nariz enfiado em algum livro e ainda faço isso. Não entendo a vida sem os livros, é isso é que me acalma. É... RPG, livros, gibis, óculos grossos... Nada mudou mesmo!

Como você entrou no Punk Rock?

Eu estava na sexta série e naquele verão fui para um acampamento de estudos (nerd camp) que era para crianças “superdotadas e talentosas”. Eu gostava de música, mas até então só tinha acesso ao que tocava na rádio. Um cara chamado Jason me emprestou uma fita com o “Never Mind The Bolloks” dos Sex Pistols de um lado, e com Bob Marley do outro. Eu gostei do Bob Marley, ainda sou um grande fã de reggae, mas com os Pistols foi algo tipo: “Wow! É disso que eu to falando! Esses caras são realmente fodidos!”

Ser um punk não facilitava as coisas na hora de se encaixar em alguma turma?

Antes de você poder comprar sua casinha pré-fabricada de estilo gótico ou o seu primeiro uniforme punk rock por correio, você tinha que garimpar muito para descobrir bandas novas e boa música em geral. Não havia Internet, MySpace ou Amazom.com – conhecer bandas levava um tempo e era um passatempo bem legal. Eu sei que sôo como um velho amargurado, mas sinto falta disso nos dias de hoje. O Nirvana apareceu junto com o Green Day e de repente um monte de pirralhos nada a ver no mundo todo estavam pintando o cabelo de verde. Isso modificou o Underground profundamente. Antigamente, se você fosse ser o “freak” e quisesse se vestir como um “freak” você seria, de fato, tratado como um “freak”. Hoje isso ficou banalizado. (N. do R,: freak é “aberração” em Inglês).

Havia muitas tretas?

Yeah, havia muitos conflitos e brigas. Conflitos verbais aconteciam o tempo todo, alguém estava sempre falando merda. As pessoas têm medo do que elas não conhecem... Infelizmente, a maioria dos seres humanos tem cabeça pequena, acredito. Comecei ir a shows com 14 ou 15 anos e conheci um monte de pessoas como eu. A principal razão que escolhi fazer faculdade em Richmond é que lá tinha uma grande cena musical. Eu costumava ir pra lá direto para ver shows. Me mudei pra lá com a desculpa de fazer a faculdade, mas na verdade foi pra sair de rolê e ir nos shows que rolavam.

Você curtiu sua época de faculdade?

Foi maravilhoso! Eu morei nos dormitórios da faculdade no primeiro ano, mas de algum modo eu mal ia para as aulas. Eu nunca terminei a facul – acho que ainda estou na lista de presença lá. Deve faltar uma matéria ou algo assim para eu fechar. Mas foi foda! Havia shows todas as noites durante a semana. Se não fosse num barzinho ou em algum clube, sempre havia em alguma festinha.
Ter vivido em Richmond tem uma grande influência na sua personalidade?

Todo mundo lá fazia música. Havia ótimas lojas de discos e livrarias e sempre tinha alguém fazendo algo interessante – escrevendo, pintando, esculpindo, fazendo zines. E todo mundo levava a sério o que fazia. Ninguém estava tentando ficar rico ou famoso com aquilo, apenas tentavam fazer a melhor arte que podiam. Era muito inspirador ver as pessoas fazerem o seu próprio lance, pensarem por si mesmas, não vivendo com extravagâncias e sendo perfeitamente tranqüilas com aquilo. Sendo felizes.

Richmond é a cidade natal de muitas bandas respeitadas. Você tinha muito contato com esse pessoal das bandas, né?

Claro que eu vi o Gwar quando eu era adolescente e eles ainda são bons amigos meus até hoje. Quando eu vi eles pela primeira vez ao vivo eu ainda não conhecia os caras e fiquei tipo, “meu deus o que é isso?” Eles eram misteriosos pra mim, com as máscaras e tal, mas com o tempo você percebia que eles eram apenas os caras que você trombou no bar ou que viu trabalhando em empregos comuns. Eu vivia perto da casa do pessoal do Avail – eles tinham vindo do norte do Estado (Virginia) e meio que construíram sua própria cena. Chegou num ponto que você não podia ser visto com eles em Richmond, pois você seria um “vendido”, então eles faziam suas próprias festas particulares em casa.

Como você começou a cantar em bandas?

Eu era amigo de todo mundo que tinha banda e tinha uma chamada “hose.got.cable”. De vez em quando eu brincava com eles, pois eu podia fazer a “Metal Voice”. Uma vez, um camarada meu do Burn The Priest (nome antigo do Lamb of God) disse, “você tem que tentar cantar na minha banda”, mas naquele tempo eu tava numas de viajar o país em trens de carga e morar em abrigos e acabei dizendo pra ele, “vou estar viajando durante o verão e quando eu voltar a gente conversa.” Eu voltei dois meses depois e, em uma noite que eu estava vendo eles tocarem eu disse pra minha então namorada: “Essa banda é fantástica. Essa é a banda que eu vou cantar!” Então eu tomei a decisão de estar em uma banda – eles não teriam escolha! Mas claro que eu não tinha a menor idéia que isso se tornaria a minha vida. Seria só mais uma coisa pra matar o tempo.

Você nunca imaginou que a banda se tornaria grande?

Nem fodendo, cara! Quando formamos a banda a intenção era apenas dar uns rolês juntos e tomar umas brejas. Talvez tocar em algum bar e, ocasionalmente, sair da cidade para alguns shows. Tudo foi acontecendo muito devagar e naturalmente pra nós. Isso faz uns 15 anos e a gente têm ralado todo santo dia desde então.

Era difícil conciliar a vida de banda com a rotina da semana?

Cara, eu acabei de chegar de uma tour de seis semanas, não ganhei nenhum tostão nela e saí do ônibus direto para o restaurante onde trabalho, pois eu tenho contas a pagar. Mas era normal, todo mundo em Richmond fazia isso então não é algo do tipo, “nossa, que sacrifício.”

Tem sido difícil conciliar a vida em família com uma banda de sucesso como o Lamb of God?

Sim, é difícil. É como uma curva de aprendizado e estou aprendendo aos poucos, assim como minha esposa, eu acho. Nós acabamos de fazer uma tour mundial e eu estarei em casa só por três semanas antes de sair para outra tour. E ainda fico uma semana pra me acostumar com os horários e pra sair do jetlag. Minha esposa é muito, muito paciente comigo. Ela sabe que estou cansado, mas que ao mesmo tempo, logo que eu voltar da tour, meus amigos vão me chamar pra dar um rolê e minha família também vai querer passar um tempo comigo. Eu tento ao máximo passar um tempo tranqüilo com minha esposa, mas ainda assim acabo fazendo entrevistas e, além de tudo, fico procurando passar um tempo comigo mesmo. Então é bem difícil. Por sorte, as mulheres que eu e os caras da banda casamos são esposas excepcionais e estão com nós desde o tempo em que não éramos famosos.

Apesar de todo o sucesso, você ainda é extremante franco nas respostas. Você sente que aquele adolescente punk ainda está dentro de você?

Sim, absolutamente! Com toda certeza do mundo! Eu mantenho essa atitude e não acho que há nada de errado nisso. Quando você tem 16 anos todo mundo é louco. Eu simplesmente só era mais louco que a maioria. Mas eu era louco de um jeito estúpido, porque moleques são estúpidos mesmo, né? Desculpe garotos, vocês são mesmo. Conforme fui ficando mais velho apenas fui percebendo com o que valia mais a pena ser louco. Há um monte de injustiça e coisas ruins acontecendo, e as pessoas certamente devem estar loucas. Aí está uma coisa que justifica a raiva e você não pode simplesmente deixar ela sair à toa. Esse é um dos problemas que eu acho que existe no mundo. As pessoas não são loucas, elas usam vendas o máximo que elas podem para se manter na zona de conforto e foda-se o resto!

Que tipo de coisa deixa o adulto Randy Blythe com raiva?

Eu acabei de voltar da Indonésia e vi a pobreza mais chocante de toda a minha vida. Lá você pode até alugar um bebê por dois dólares pra dar uma volta. Isso diz algo sobre a pobreza e os valores da existência humana. E isso acontece na maior parte do mundo. Em muitos lugares você não tem água potável ou eletricidade. Eu acho que as pessoas têm que perceber essa realidade e que há um monte de coisa a fazer para consertar o mundo. Eu fico simplesmente enojado com as pessoas que só pensam em si mesmas.