quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Resenha: Hunger e Medo da Noite, no Plebe Bar

Acontecimentos diversos me permitiram presenciar uma das celebrações que já está se tornando tradicional na cena de Indaiatuba! Todos os anos, a galera que chegou do Paraná com muito orgulho e humildade para fazer Rock em Indaiatuba se reúne em um show para os amigos! Pelo menos desde 2002 essa dobradinha acontece, de um jeito ou de outro, pulando uns anos e outros não, com a diferença que a cada apresentação eles estão melhores! E foi nesse clima que estive sábado, dia 9/12/11, no Plebe Bar, para conferir mais uma festa com Hunger e Medo da Noite, com open-bar de caipirinha e uma breja na faixa!

O Hunger abriu o show. “Ano passado deixamos o Medo abrir, eles demoraram muito e a gente tocou muito tarde. Então fomos mais espertos esse ano, chegamos 17h30 no bar para montar as coisas”, me explicou rindo sarcasticamente o Sr. Mauro Izalbert, frontman e headmaster do Hunger, bem na frente do William, o “cabeça” do Medo da Noite, que só ria concordando, mostrando o clima de camaradagem que imperava!

Do primeiro show que eu vi do Hunger, em 2002, na extinta A Casa, até esse, pude acompanhar a trajetória do Mauro, um verdadeiro obstinado, persistente e disciplinado batalhador de seu “sonho de vencer com sua música”. E como o Hunger evoluiu desde então! Pra começar, a formação dos caras é a melhor que a banda já teve em todos os sentidos, sem desmerecer o grande Romão, que já assumiu as baquetas do grupo! Mauro, que toca e compõe com a inteligência de poucos, tem na sua retaguarda o batera Israel, que, se não é um ás do instrumento, mostra que pegada e paixão devem fazer parte do arsenal de qualquer baterista que se preze. Nesse show, com um bumbo incrivelmente regulado, pude perceber que a consistência de sua pegada vem do trabalho quase que contínuo de seus dois pés! Parecia uma metralhadora impiedosa, intercalando rajadas de tiros absurdamente encaixadas com as palhetadas da banda.

Ao seu lado esquerdo, Mauro tem a companhia do velho parceiro de guerra Thiago Palmeiras. Eu mesmo já toquei com ele e sei da precisão que ele tem nos dedinhos gordinhos (rs)! Sem contar a postura totalmente original com que ele levanta o braço do braço pra banguear!

Na outra ponta, jogando muito, quer dizer, tocando muito, mas muito mesmo, Mauro conta com a fritadeira insana do Thiago “Kronos”! Como esse moleque tá tocando! Virtuoses da guitarra têm aos montes em Indaiatuba, mas com a precisão desse maluco vai demorar pra aparecer um! Cada fraseado e cada lick na velocidade da luz que ele entregou nesse show...

Outro capítulo à parte é a timbragem! Se todas as bandas da cidade tivessem o cuidado que o Hunger tem em timbrar os instrumentos, ninguém pegava nossa cena! Sim, para isso a banda conta com auxílio de rodies profissionais, que além de deixar tudo pronto pra eles só chegarem e tocar, soltam samplers que completam as músicas no momento certo! Oh inveja! hahaha

Finalmente falando do show (acredite, essa longa introdução era necessária para fazer vocês entrarem no clima, ou pelo menos tentar isso...rs), eles detonaram! Abriram com “Peace Is In Pieces”, primeira grande música composta por Mauro, que já foi alterada diversas vezes por conta da própria evolução musical da banda, e que agora está mais mortal ainda, com sua letra que relata a guerra por petróleo no Oriente Médio. Mais Thrash Metal impossível!

O show seguiu e, pela primeira vez em muito tempo, uma banda de Metal me pegou pelo estômago! Sim, porque mesmo revendo muitos conhecidos pelo Plebe, e com o UFC 140 passando na TV, me senti atraído pela presença e pegada do Hunger. A última banda de Metal que me fez isso foi o Metallica, no show de 2010 (a resenha está mais abaixo, aqui no blog)! Já hipnoticamente grudado na banda, Mauro avisou que aquela seria a última vez que aquele som seria cantado em Português, admitindo tranquilamente que a versão em nossa língua foi exclusivamente feita para o Festival de Rock. E dá-lhe “Contradizendo Um Paradoxo”! Apesar de eu ainda ficar em dúvida quanto a esse título, essa música é fodassa! Aliás, já digo que é “Clássica”!

O Hunger mostrou que é possível evoluir tocando Thrash Metal! Todos os sons do grupo estão com uma roupagem bem moderna, com leves flertes com o Metalcore (eu disse “leves flertes”, ok?) e um peso absurdo. Mauro soube muito bem pegar o Thrash oitentista, misturar com o peso dos Anos 90 e temperar com a melodia e os pedais duplos da primeira década do século! Inteligência musical é pra poucos!

A grande surpresa do show foi a execução de “Walk”, clássico arrasa-quarteirão do Pantera, com Mauro cantando sem a guitarra em punho e com Thiago honrando exemplarmente Dimebag no solo! Nos backing vocals do refrão, este que vos escreve teve a honra de soltar os demônios com seus gritos desafinados (Valeu!)! Tomara que esse som ainda fique por um bom tempo no repertório do grupo!

“O que é que vou tocar agora?"

Terminada a explosão atômica do Hunger, o próprio William, vocalista, guitarrista e compositor do Medo da Noite, que não parou de banguear um segundo no show dos asseclas do Sr. Mauro Izalbert, virou pra mim e falou: “O que é que eu vou tocar agora depois disso?” Confesso que concordei com ele na hora – seria muito difícil o Medo da Noite conseguir manter a galera acesa depois do estrago (no bom sentido) feito pelo Hunger!

Mas, como o próprio Wesley, baterista do grupo postou no Facebook esta semana, eles são os que eles fazem e têm isso nas veias! Isso que ele fala é o Rock ‘n Roll na mais pura forma de expressão, simples e singelo, de All Star no pé e jeans rasgado, embebedado pelas brejas baratas dividas com os camaradas no rolê e fedido com os cigarros fumados acesos quase que um no outro, e com uma energia de fazer você se sentir um adolescente outra vez, capaz de passar por cima de tudo e de todos!

Quando o Medo começou seu show, percebi que todas as músicas de seu primeiro disco, o humilde e bem gravado “O Silêncio Que Destrói” já são clássicos do Rock Indaiatubano! Todo mundo cantava junto e amava! A mistura de Renato Russo e Cazuza com Kurt Cobain e Laney Stanley das letras de William, sem falar na sua interpretação catártica, sempre perdido dentro de si, sentindo a própria poesia, com uma cara de louco que parece não ver nada, mas absolutamente consciente de tudo a sua volta, conquistou todos os rockers de Indaiatuba, independente se o cara é do Metal, do HC, do Punk ou qualquer outro estilo de Rock. Tava todo mundo cantando junto! Confesso que eu senti até vergonha por não lembrar de algumas letras!

Como foi lindo ver e ouvir “Flores de Plástico”, “A Procura de Heróis”, “O Silêncio Que Destrói” e, principalmente, “Dia de Morrer”! Como essas músicas são marcantes! O próprio Mauro falou depois da apresentação que não existe um poeta igual o William! Como vou discordar, né?

Outro ponto alto do show foram as músicas novas! Eu, afastado que estou da cena, não conhecia nenhuma, mas todo mundo já tinha na ponta da língua as letras, além dos “na-na-nas” nos riffs! Que lindo foi ver isso! As músicas seguem a mesma linha de composição das registradas no debut do grupo, mas demonstram grande evolução na construção das melodias e arranjos (gravem logo isso aí, galera! Demorou!)!

Weslão na bateria continua muito atrevido, sempre preenchendo os espaços com os pedais duplos e muitas viradas, criando uma característica bem peculiar e interessante no som da banda, já que as levadas são quase sempre baseadas na simplicidade do Grunge e do Punk Rock! O novo baixista (esqueci o nome agora, desculpem, eu não estava tão sóbrio quando fui apresentado a ele no dia), mostra muita segurança nas linhas de seu instrumento, além de uma paixão muito grande por estar tocando aqueles sons! Seus backing vocals casam muito bem com a voz de William, parecendo que tem um verdadeiro coro de vozes por trás, quando na verdade há apenas ele!

Ao final, todo mundo queria mais e pediu um bis. William atendeu, mas, ao fim do som, a galera pediu mais e ameaçou, “não vamos te deixar descer do palco”. Sem opção e alegando “vontade de beber” (mais?), ele não viu outra saída a não ser quebrar as cordas da própria guitarra, para desapontamento dos presentes. Mas isso nem foi tão desolador, já que todo mundo já estava em êxtase e satisfeito por ver dois shows fodassos e uma amizade entre bandas que já teve muitos “baixos”, mas agora só permanece nos “altos”, como demonstrado pelo abraço fraternal entre os dos “cabeças” no fim dos show, dizendo: “Mais um ano tocando juntos!”

Pega nóis!

Links relacionados:

- Hunger
- Medo da Noite
- Plebe Bar

5 comentários:

  1. Caralho!!!

    Perdio Maurão cantando WALK!

    Sou fã desse kra mano! já tive o prazer de tocar na Hunger e sei como todos são dedicados!

    Torço muito para que cheguem aonde querem! vcs merecem e com certeza absoluta essa formação é a melhor de todas!

    MONSTRUOSA! tem q buscar coisas grandes agora a banda está pronta pra isso!

    Abração!

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  2. Muito boa essa resenha léozônis!!! perdi o show tb esse dia, mas me senti lá!!

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  3. Caralho Léo !!! Você retrata as coisas como se estivesse do lado de dentro cara, puta texto, emocionante pra gente e pro medo da noite, só tenho a agradecer o reconhecimento de uma pessoa de opinião como você!! Obrigado!!!!
    Mauro Izalbert

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  4. MUITO OBRIGADO LEOZÃO... O TEXTO ESTA TENSO, QUASE CHOREI DE MANHA, MUITO PROFUNDO, E RETRATA COM UMA VERDADE ABSURDA NOSSA CAMINHADA... ABRAÇO

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  5. Concordo com a opinião do Mauro, além disso gostaria de agradecer por lembrar dos roadies, valeu mesmo ^^

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