segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

OPINIÃO: Será o fim das revistas de Rock?

Texto publicado no blog The Hard Ways.

O pedido de demissão do redator Thiago Sarkis da revista Roadie Crew em fevereiro deste ano me deu um frio na espinha. A notícia soaria normal se não fosse uma lavação de roupa suja promovida por alguns membros remanescentes do staff da revista no orkut, após o anúncio de despedida do redator.

Cresci lendo, ou melhor, devorando todas as revistas de rock que existiam no Brasil na década de 90: Rock Brigade, Metal Head, a própria Roadie Crew (que pintou como revista mesmo só em 1998), Valhalla, Rock Press, ShowBizz e algumas outras “tentativas de revista”. Elas, por mais patético que pareça, influenciaram um adolescente de 17 anos, que não sabia que curso fazer na universidade, a escolher o Jornalismo, com a ilusão de um dia integrar o cast delas, entrevistando todos os ídolos e vendo todos os shows de graça! Aí a vida chega forte, todos os sonhos caem por terra, o adolescente acorda, desiste do sonho e, paralelo a isso, as próprias revistas de rock definham!

Pra falar a verdade, apenas três revistas me interessavam de verdade: Rock Brigade, Valhalla e Roadie Crew. A primeira que caiu foi a Valhalla, por motivos financeiros! Mesmo uma parceria com a revista gringa Rock Hard não foi suficiente pra segurar as pontas. Isso tudo depois da era da internet, onde tudo pode ser lido quase que ao vivo e as revistas perderam as oportunidades de dar “furos” e passar informações inéditas em primeira mão.

Depois acontece minha maior decepção: a Rock Brigade, não sei por que até hoje, demite, ou tem demitida, toda a sua redação (Antonio Carlos Monteiro, Fernando Souza Filho e Ricardo Franzin, praticamente meus heróis na profissão) e contrata um bando de jovens sem a mínima noção jornalismo. A qualidade da revista caiu assustadoramente e, como se não bastasse, a revista parou de circular em bancas, sendo vendida apenas pela internet. Juro que fiquei de cara um tempão por isso.

Aí tive que “engolir” a Roadie Crew, como única salvadora da pátria! Não que a revista seja ruim. Não é! Mas sempre achei os textos dela muito burocráticos e com pautas muito repetidas. Sempre que alguma banda lança um disco, a ordem da pauta pra entrevista é:

- como foi o processo de composição;
- como foi o trabalho com o produtor;
- como tem sido a recepção das músicas nos shows e as vendagens;
- quando vocês vão tocar no Brasil;
- deixe um recado para seus fãs brasileiros.

Eu juro que eles devem ter essa pauta genérica pronta pra todas as entrevistas! E meu, quem compra uma revista de rock quer, num primeiro momento, saber como pensa o seu ídolo, como ele age etc. Que se foda como foi feito o disco! Isso ele mesmo pode escrever no site da banda dele, sem contar que muitas bandas hoje em dia já fazem vídeos “making of” onde mostram tudo!

Sem contar que todas as respostas pra essa pautinha são sempre as mesmas: “esse é nosso melhor disco, o produtor soube extrair tudo de nós, os fãs têm adorados as músicas novas nos shows, as vendagens estão ótimas, pretendemos tocar em breve no Brasil e nós amamos vocês, brasileiros, e estamos doidos pra ir aí tocar, beber caipirinha e foder suas mulheres.”

Na verdade, ainda curto muito o trabalho do Antonio Carlos Monteiro, que, depois que saiu da Brigade, tem “colaborado” com a Roadie Crew. Ele, assim como seus ex-companheiros, tem a malícia, a irreverência e a inteligência para transformar qualquer entrevistinha com qualquer bandinha mixuruca em uma verdadeira aula de extração de respostas e “prendimento” do leitor! Nada na Brigade dos bons tempos era burocrático! Eles cutucavam a ferida do artista quando era preciso, sem dó, nem piedade! E perguntavam coisas que você poderia traçar um perfil do modo de pensar do entrevistado, cumprindo assim o papel da revista, jornalisticamente falando.

“Ok! Beleza! Vamos dar uma chance pra Roadie Crew, pois às vezes eles se superam e fazem entrevistas legais.” Eu pensava assim. Aí hoje, vendo a comunidade da revista no orkut me deparo com a “despedida” do redator Thiago Sarkis e com uma lavação de roupa suja no orkut. Não que o Thiago era o redator mais fodão da revista e tals. Nem é isso! Ele é ótimo, faz boas entrevistas e se supera às vezes (não chega aos pés do staff da antiga Brigade, mas dá pra levar). Mas isso mostra que tem incríveis tretas na redação da revista!

Parece que o povo tem trabalhado lá com a faca nos dentes e com a mão no pino da granada! Isso me dá a impressão que tudo pode acabar a qualquer momento! Que os caras da revista podem brigar, por dinheiro, por ego, por diferenças e, a qualquer hora, posso ficar sem nenhuma revista de rock pra ler, por mais fútil que isso pareça ao resto do mundo!

Isso me preocupa! Me chateia! Me desanima! E cá fico eu a ler cada vez mais blogs e acessar sites sobre música. Ah, mas isso, sem saber o perfil dos caras que fazem a música que eu idolatro! Seria até um possível fim dos meus ídolos na música? Como que eu vou curtir o cara se eu não sei o que ele pensa. Vou ficar só com a música mesmo? Que medo...

3 comentários:

  1. hum... penso diferente em muitas coisas.... uma delas é a respeito dos sonhos.... Acredito que apenas os fracos desistem dos seus sonhos.... Mas não no sentido pejorativo, longe disso... Me refiro a falta de firmeza pra manter a atitude de seguir em direção ao seu sonho, a falta de "fé" de que vai conseguir seus objetivos e etc... Mesmo que leve a vida inteira, ou duas vidas se for preciso, atingirei meus sonhos \o/...

    Mas sobre as revistas, até certo ponto vc tem razão, as entrevistas antigamente eram muito mais interessantes do que hj em dia... Porém, acredito que isso seja inevitável... A internet facilitou (e muito) o acesso a informação, de certa forma, uma evolução (e creio q seja benéfica)...

    Infelizmente não teremos mais essas entrevistas (que eram ótimas) que nos ajudavam a conhecer os nossos idolos, e ficamos apenas com a múscia dele.... Mas isso não é de todo o ruim, pq um bom músico se expressa através da sua música. Então, agora, se quisermos mesmo conhecer o perfil dos nossos idolos, teremos q prestar (mais ainda ^^) atenção em sua música e suas intenções com a mesma....

    Enfim,muito bom o post, e ótimo zine... \o/

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  2. Shini,

    Valeu por compartilhar suas opiniões aqui! O intuito do espaço é esse!

    Mas, claro: sempre desta maneira sadia com que vc colocou seus pontos de vista!

    Muito obrigado,

    Abraço

    Leo

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  3. Na minha opinião a Rock Brigade já havia ficado ruim com esse time, que você idolatra. Na década de 1980, a Rock Brigade mantinha uma posição radical e hoje aqueles textos soam como caricaturas. Eu não tenho nada contra uma revista como aquela que começou metal e depois colocou bandas grunge e outra como o Barão Vermelho, mas para a galera radical não rola. Se não foi sonho meu, eu bem me lembro da Rock Brigade uma matéria Korzus vs Dorsal Atlântica sobre um festival que teve no Brasil e que ambas tocaram e parece que teve desentendimento de ambos os lados. Essa coisa horrorosa teve quatro partes onde o Carlos Vândalo, da Dorsal e outros do Korzus ficaram trocando acusações da maneira mais deprimente, enfim um show de horrores.

    Isso sem falar nas resenhas da tal revista, que sempre supervalorizaram os seus lançamentos dando notas altas e as mesmas bandas anteriormente lançadas por outros selos recebiam notas baixas e inclusive na larga maioria esse material distribuído pela Laser Company era inferior. A Roadie Crew, eu considero apenas uma boa revista, mas você tem razão é muito burocrática e tem outros quadros bons. Eu já cheguei ao ponto de pensar, me perguntar ler ou não ler, a Roadie Crew?

    Só acho que a Roadie Crew é muito atrasada, a mentalidade dos jornalistas, repórteres deles é muito débil e o radicalismo (fundamentalismo) ali impede alçar voos maiores. As revistas e o cenário podem acabar, mas isso acontece pelas próprias mãos.

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