quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

My life story: Randy Blythe (Lamb of God)

Li essa entrevista na edição de dezembro da revista americana Revolver e achei interessante traduzir. Quando eu fiz aquele artigo sobre o fim das revistas de Rock no Brasil, uma das minhas grandes preocupações era justamente não poder saber como e o quê o cara que faz a música que eu curto pensa! Essa entrevista, que faz parte da seção chamada “My life story”, é justamente isso: não tem nada perguntando do disco do Lamb of God, da tour, da gravação etc. Só tem pergunta pessoal, ainda que seja voltada para o universo roqueiro. Nisso eu sei que o cara que berra lá, de fato, tem algo a dizer, que ele não é um tapado e que eu não venero um babaca (vide o lamentável costume de James Hetfield, do Metallica, em caçar ursos). É disso que eu sinto falta. Atualmente temos apenas a Roadie Crew como revista de Rock no Brasil, nem to contando a Rock Brigade, pois a qualidade caiu demais, e ela (a Roadie Crew) INFELIZMENTE é uma revista que escreve para uma massa bovina, com entrevistas superficiais, apenas sobre assuntos que não acrescentam nada na vida de qualquer ser pensante. Claro que há exceções, vide que o excelente redator Antonio Carlos Monteiro hoje integra o cast da revista, mas, em geral, a qualidade do material é fraca. Tudo bem, isso pode ser reflexo da (falta de) cultura do povo brasileiro, que não lê como deveria, mas isso já é assunto pra outro post. Segue o link e a tradução da entrevista. Aproveitem pra ver como uma revista de Rock pode ser muito interessante e legal. É disso que eu to falando!

LINK: Revolver Magazine

Por Dayal Patterson

Onde e quando você nasceu?

Nasci em 21/02/71, em Fort Meade, Maryland. Nós morávamos em uma base militar e meu pai era da aeronáutica. Mas nós não ficamos lá por muito tempo.

De que tipo de família você veio?

Meus pais se separaram quando eu era jovem, mas isso foi uma coisa boa – não teve nenhuma treta por custódia de filhos ou coisa parecida. Eles eram ótimos pais, apenas não estava dando certo juntos. Quando eu estava na quarta série, me mudei para Virginia com meu pai e meus irmãos e nós vivemos lá por alguns anos na fazenda da minha avó. Era realmente muito legal. Meu pai trabalha pra caramba, então eu, junto com minha avó, meio que criamos meus irmãos mais novos.

Você era um bom irmão mais velho?

Eu era super protetor. Eu fazia o máximo para ter certeza que eles faziam o dever de casa e ficassem longe de encrencas. Eu não fui sempre o melhor modelo de irmão, mas minhas intenções eram sempre boas.

Com o que você se parecia quando estava crescendo?

Descobri o mundo do Punk Rock quando estava na sexta série e, antes disso, eu tentava estar na onda de todo mundo. Eu tentava me encaixar em alguns grupos, mas eu era um nerd e minha família não tinha muito dinheiro. Quer dizer, nós não vivíamos num barraco ou coisa parecida, mas certamente não éramos ricos. Crianças podem ser bem cruéis se você não tem as roupas da moda e o que mais seja, porque eles, em sua maioria, foram criados por pais idiotas de “cabeça-fechada”, que os ensinaram a ser “idiotas de cabeça-fechada”. Então, eu tentava andar com todo mundo, exceto pessoas que não era amigáveis comigo. Eu nunca fui muito popular ou algo do tipo, então, quando eu entrei para o Punk Rock, foi tipo “fodam-se todos” e isso era uma maneira de me manter desse jeito.

De que modo você era um nerd?

Cara, eu ainda sou um nerd! Eu ainda jogo RPG (Dungeons & Dragons) e esse é ponto máximo que eu chego nessa! Eu nunca fui de fazer esportes. Eu até pratiquei luta por um tempinho. Mas eu não era aquele cara que jogava futebol americano. Eu era sempre aquele cara que estava lendo um livro. Eu trabalhava em um bar e eu me lembro que o bartender me disse uma vez: “Randy, se na biblioteca vendesse cerveja, nós nunca mais te veríamos.” Eu sempre estava como nariz enfiado em algum livro e ainda faço isso. Não entendo a vida sem os livros, é isso é que me acalma. É... RPG, livros, gibis, óculos grossos... Nada mudou mesmo!

Como você entrou no Punk Rock?

Eu estava na sexta série e naquele verão fui para um acampamento de estudos (nerd camp) que era para crianças “superdotadas e talentosas”. Eu gostava de música, mas até então só tinha acesso ao que tocava na rádio. Um cara chamado Jason me emprestou uma fita com o “Never Mind The Bolloks” dos Sex Pistols de um lado, e com Bob Marley do outro. Eu gostei do Bob Marley, ainda sou um grande fã de reggae, mas com os Pistols foi algo tipo: “Wow! É disso que eu to falando! Esses caras são realmente fodidos!”

Ser um punk não facilitava as coisas na hora de se encaixar em alguma turma?

Antes de você poder comprar sua casinha pré-fabricada de estilo gótico ou o seu primeiro uniforme punk rock por correio, você tinha que garimpar muito para descobrir bandas novas e boa música em geral. Não havia Internet, MySpace ou Amazom.com – conhecer bandas levava um tempo e era um passatempo bem legal. Eu sei que sôo como um velho amargurado, mas sinto falta disso nos dias de hoje. O Nirvana apareceu junto com o Green Day e de repente um monte de pirralhos nada a ver no mundo todo estavam pintando o cabelo de verde. Isso modificou o Underground profundamente. Antigamente, se você fosse ser o “freak” e quisesse se vestir como um “freak” você seria, de fato, tratado como um “freak”. Hoje isso ficou banalizado. (N. do R,: freak é “aberração” em Inglês).

Havia muitas tretas?

Yeah, havia muitos conflitos e brigas. Conflitos verbais aconteciam o tempo todo, alguém estava sempre falando merda. As pessoas têm medo do que elas não conhecem... Infelizmente, a maioria dos seres humanos tem cabeça pequena, acredito. Comecei ir a shows com 14 ou 15 anos e conheci um monte de pessoas como eu. A principal razão que escolhi fazer faculdade em Richmond é que lá tinha uma grande cena musical. Eu costumava ir pra lá direto para ver shows. Me mudei pra lá com a desculpa de fazer a faculdade, mas na verdade foi pra sair de rolê e ir nos shows que rolavam.

Você curtiu sua época de faculdade?

Foi maravilhoso! Eu morei nos dormitórios da faculdade no primeiro ano, mas de algum modo eu mal ia para as aulas. Eu nunca terminei a facul – acho que ainda estou na lista de presença lá. Deve faltar uma matéria ou algo assim para eu fechar. Mas foi foda! Havia shows todas as noites durante a semana. Se não fosse num barzinho ou em algum clube, sempre havia em alguma festinha.
Ter vivido em Richmond tem uma grande influência na sua personalidade?

Todo mundo lá fazia música. Havia ótimas lojas de discos e livrarias e sempre tinha alguém fazendo algo interessante – escrevendo, pintando, esculpindo, fazendo zines. E todo mundo levava a sério o que fazia. Ninguém estava tentando ficar rico ou famoso com aquilo, apenas tentavam fazer a melhor arte que podiam. Era muito inspirador ver as pessoas fazerem o seu próprio lance, pensarem por si mesmas, não vivendo com extravagâncias e sendo perfeitamente tranqüilas com aquilo. Sendo felizes.

Richmond é a cidade natal de muitas bandas respeitadas. Você tinha muito contato com esse pessoal das bandas, né?

Claro que eu vi o Gwar quando eu era adolescente e eles ainda são bons amigos meus até hoje. Quando eu vi eles pela primeira vez ao vivo eu ainda não conhecia os caras e fiquei tipo, “meu deus o que é isso?” Eles eram misteriosos pra mim, com as máscaras e tal, mas com o tempo você percebia que eles eram apenas os caras que você trombou no bar ou que viu trabalhando em empregos comuns. Eu vivia perto da casa do pessoal do Avail – eles tinham vindo do norte do Estado (Virginia) e meio que construíram sua própria cena. Chegou num ponto que você não podia ser visto com eles em Richmond, pois você seria um “vendido”, então eles faziam suas próprias festas particulares em casa.

Como você começou a cantar em bandas?

Eu era amigo de todo mundo que tinha banda e tinha uma chamada “hose.got.cable”. De vez em quando eu brincava com eles, pois eu podia fazer a “Metal Voice”. Uma vez, um camarada meu do Burn The Priest (nome antigo do Lamb of God) disse, “você tem que tentar cantar na minha banda”, mas naquele tempo eu tava numas de viajar o país em trens de carga e morar em abrigos e acabei dizendo pra ele, “vou estar viajando durante o verão e quando eu voltar a gente conversa.” Eu voltei dois meses depois e, em uma noite que eu estava vendo eles tocarem eu disse pra minha então namorada: “Essa banda é fantástica. Essa é a banda que eu vou cantar!” Então eu tomei a decisão de estar em uma banda – eles não teriam escolha! Mas claro que eu não tinha a menor idéia que isso se tornaria a minha vida. Seria só mais uma coisa pra matar o tempo.

Você nunca imaginou que a banda se tornaria grande?

Nem fodendo, cara! Quando formamos a banda a intenção era apenas dar uns rolês juntos e tomar umas brejas. Talvez tocar em algum bar e, ocasionalmente, sair da cidade para alguns shows. Tudo foi acontecendo muito devagar e naturalmente pra nós. Isso faz uns 15 anos e a gente têm ralado todo santo dia desde então.

Era difícil conciliar a vida de banda com a rotina da semana?

Cara, eu acabei de chegar de uma tour de seis semanas, não ganhei nenhum tostão nela e saí do ônibus direto para o restaurante onde trabalho, pois eu tenho contas a pagar. Mas era normal, todo mundo em Richmond fazia isso então não é algo do tipo, “nossa, que sacrifício.”

Tem sido difícil conciliar a vida em família com uma banda de sucesso como o Lamb of God?

Sim, é difícil. É como uma curva de aprendizado e estou aprendendo aos poucos, assim como minha esposa, eu acho. Nós acabamos de fazer uma tour mundial e eu estarei em casa só por três semanas antes de sair para outra tour. E ainda fico uma semana pra me acostumar com os horários e pra sair do jetlag. Minha esposa é muito, muito paciente comigo. Ela sabe que estou cansado, mas que ao mesmo tempo, logo que eu voltar da tour, meus amigos vão me chamar pra dar um rolê e minha família também vai querer passar um tempo comigo. Eu tento ao máximo passar um tempo tranqüilo com minha esposa, mas ainda assim acabo fazendo entrevistas e, além de tudo, fico procurando passar um tempo comigo mesmo. Então é bem difícil. Por sorte, as mulheres que eu e os caras da banda casamos são esposas excepcionais e estão com nós desde o tempo em que não éramos famosos.

Apesar de todo o sucesso, você ainda é extremante franco nas respostas. Você sente que aquele adolescente punk ainda está dentro de você?

Sim, absolutamente! Com toda certeza do mundo! Eu mantenho essa atitude e não acho que há nada de errado nisso. Quando você tem 16 anos todo mundo é louco. Eu simplesmente só era mais louco que a maioria. Mas eu era louco de um jeito estúpido, porque moleques são estúpidos mesmo, né? Desculpe garotos, vocês são mesmo. Conforme fui ficando mais velho apenas fui percebendo com o que valia mais a pena ser louco. Há um monte de injustiça e coisas ruins acontecendo, e as pessoas certamente devem estar loucas. Aí está uma coisa que justifica a raiva e você não pode simplesmente deixar ela sair à toa. Esse é um dos problemas que eu acho que existe no mundo. As pessoas não são loucas, elas usam vendas o máximo que elas podem para se manter na zona de conforto e foda-se o resto!

Que tipo de coisa deixa o adulto Randy Blythe com raiva?

Eu acabei de voltar da Indonésia e vi a pobreza mais chocante de toda a minha vida. Lá você pode até alugar um bebê por dois dólares pra dar uma volta. Isso diz algo sobre a pobreza e os valores da existência humana. E isso acontece na maior parte do mundo. Em muitos lugares você não tem água potável ou eletricidade. Eu acho que as pessoas têm que perceber essa realidade e que há um monte de coisa a fazer para consertar o mundo. Eu fico simplesmente enojado com as pessoas que só pensam em si mesmas.

2 comentários:

  1. Noossa meu parabéns, sou fã de Randy Blythe!! adoro escutar a voz rasgaada delee!!
    espero que muiitos como eu possam ter essa sorte de ler sobre a infânciia e a juventude dele!

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  2. só por curiosidade, será que ele ja usou ou usa drogas ?
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